a flor do desejo e do maracujá

descobri na internet que um beijo de dez segundos transmite 80 milhões de bactérias. não sei se é verdade, mas parece que uns cientistas da Holanda estudaram e chegaram a esse número espantoso. nem sabia que cabia tanta coisa na saliva, por mais molhado que seja o encontro…

esse é o tipo de informação chata, coisa que a gente tem que esquecer, varrer do consciente, engolir em seco (!). ora bolas!, não dá para carregar por aí a notícia, menos ainda a imagem, de 80 milhões de bactérias fazendo uma grande festa junina na sua boca enquanto você estaciona no primeiro ponto do prazer.

acho que o beijo diz qualquer coisa definitiva sobre o par. não que seja ele próprio o ponto de decisão entre fazer laço ou não, mas é o beijo que sussurra os segredos do amor.

tem gente que não sabe beijar. não falo de técnica, mas de entrega. é preciso não possuir, não ser, não ter, não nada. é preciso a ausência. o beijo é a meditação feita a dois, levitação.

o beijo é todo vontade de momento. é sentir que o mundo parou; é saber que pende, perpétua, na ponta de uma folha a gota de orvalho que não cai; é congelar a areia da ampulheta; é estar entre uma nota e outra da música; é não ter pensamentos.

o beijo é a rejeição a tudo que não seja ele próprio. é o começo, o meio e o fim. nada pode ter mais importância e nenhuma consequência é maior do que aquele instante.

bocas que se encontram de verdade se sabem, se reconhecem, se tocam nessa fatia de tempo, nesse início de volúpia, nesse instante do sempre, nessa terra do nunca. é como se um raio de sol atravessasse todos as camadas para dourar sensualidade.

é na hora do beijo que se voga, ainda que 80 milhões de bactérias se entusiasmem com história alheia.

Glenn McDuffie e Edith Shain, Times Square, Nova York, em 1945. Foto de Alfred Eisenstaed para revista Life

2 Comentários

  1. Estefânio
  2. Estefânio

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