gentileza gera estranheza


há muito que ouço por aí sobre como as pessoas são brutas, não se olham, não se ouvem, não se gostam, não se reconhecem. 

acho que são pequenos rios que vão em direção a um grande mar de confusão, lugar em que procuro nunca mergulhar.
 
exemplo: tempos atrás estava com Lívia no mercado. no caixa, à nossa frente, uma moça com compras para uma festinha de aniversário: salgadinhos, docinhos, uma vela   de 4 anos, e um bolo. na hora de pagar, percebeu que a grana não daria pra tudo. pediu para atendente ir tirando os saquinhos de salgado e subtrair valores. fiquei comovida; a festa, que já seria bem simples se ela levasse tudo, ficaria ainda mais desfalcada. com muita delicadeza, pedi para que passasse a compra completa que eu pagaria a diferença. qual o que?! a moça se sentiu ofendida, ofendidíssima, e me tascou “não preciso do seu dinheiro!”. insisti. disse que não era meu dinheiro, mas um presente, como forma de participar da festa. me mediu da cabeça aos pés e negou. 
a soberba com que me tratou me constrangeu. me calei humilhada, sem graça, quase criminosa. 
se o caso fosse contrário e eu a tratasse mal acho que alguém seria capaz de chamar a polícia e sugerir um processo para me enquadrar em alguma via hipócrita de nossas Leis. como se deu no sentido inverso, eu que tratasse de engolir qualquer pseudo-ofensa. 
 
hoje, Mercado Municipal. para percorrer corredores sem ter vontade de comer tudo que via pela frente, parei na lojinha de bolacha. enquanto a mocinha pesava minha encomenda, mãe e filha pararam ao meu lado. a pequena queria a mesma bolacha que a minha, a mãe negou “muito cara essa, escolha outra”. os olhos da gurias imediatamente boiaram. peguei meu saquinho e como não sabia nada da história das duas, perguntei baixinho “posso dar meu pacotinho pra sua filha?”. a mulher me olhou fundo e inquisidora perguntou por que, quis saber por qual motivo eu queria fazer aquilo. fui respondendo com calma, num caô de que me arrependi de ter comprado, de que não estava com vontade, de que ela aproveitaria mais do que eu. aceitou de um jeito duro, sem sorriso e ainda com interrogações nos gestos. 
 
fui-me embora e enquanto almoçava lá na Maia vi um rapaz com uma daquelas camisetas do José Datrino “gentileza gera gentileza”. 
até pode ser, mas para mim isso não acontece imediatamente, precisei circular percurso enorme até estar diante do casal Maia&Mauro para reconhecer em seus sorrisos a hospitalidade donaire. 
 
a curtíssimo prazo, a queima roupa, gentileza gera estranheza. 
 

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