juízo final

li agora pouco uma matéria na Gazeta do Povo. o Cristiano Castilho relatou o ocorrido em nossa rodoviária. resumo: Tom 14 foi convidado para participar da Bienal de Curitiba e teve a rodô como seu espaço. livre, como todo artista deve ser, pensou “a rodoviária como um grande ser, em que as pessoas que passam por ali são a corrente sanguínea. É ‘a’ rodoviária, um ser feminino”. lindo! pintou mãos e braços e olhos e ouvidos. pintou também uma vagina, porque é parte importante para representar o feminino.

e tudo se espalhou por paredes e corredores e escadas e estava bem colorido e vívido e cheio dos conceitos e pensamentos do artista e o pessoal da rodô gostou e a turma da URBS aprovou e a vida seguia… até que a vereadora Julieta Reis, do DEM, representante de um tipo de juízo da cidade, solicitou a mudança de parte da obra, aquela da vagina (que aqui poderia chamar de perseguida, se fosse dada a trocadilhos assim). o artista não quis brigar, trocou a discussão por cores e fez a transformação solicitada – que agora, depois da polêmica, chama ainda mais atenção. Julieta Reis justificou que não se trata de censura, ela só acha que o local é impróprio, que um espaço público não pode ter uma vagina na parede.

um espaço público pode ter mendigos, assaltantes, viciados, sem teto, insegurança, banheiros horrorosos, filas, problemas, pichações. tudo isso pode, pelo que se vê por aí.

a arte é o lugar onde a censura não cabe. faz parte, também, de sua existência transgredir, caminhar em busca de combater tabus, de ultrapassar as barreiras que se trancam no senso comum e de apresentar alternativas vindas de um outro tipo de olhar.

temo por uma sociedade que anda na direção contrária do que foi conquistado, pensado, desenvolvido. é triste imaginar que ainda estamos aprisionados nas ideias daqueles que mandaram em 1559, Daniel de Volterra cobrir as vergonhas dos corpos do Juízo Final de Michelangelo.

Uma resposta

  1. Jaqueline

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