que brisa é essa?


O futuro está tentando se aproximar de mim. Chega aos poucos, sem aviso nem estardalhaço. Vem, me tira pra dançar, me sussurra no ouvido uma ou duas palavrinhas em língua que não conheço, faz meia volta e some no adiante. 
Ele brinca, me venda os olhos e empresta a sensação de sua chegada. É mestre no jogo do óbvio ulterior, derrama suspeitas que depois do escorregar do tempo se transformam em lembranças evidentes.
Olho fundo no espelho, reviro pensamentos, busco conexões. Espio o nada que ele é e me recolho sem resposta, me falta a veia estrategista, o saber da leitura e da projeção.
Mais valia ter sexto sentido inexistente que descalibrado desse jeito!
Coisas que todas as minhas sensibilidades provadas e conhecidas não alcançam acabam me cutucando de um jeito intuitivo, me dando pistas sem provas de existência e me fazendo ridícula diante do meu existencialismo.
É empresa das piores ter o futuro mostrando cascas de banana, assombrando, ameaçando, esburacando caminhos.
Eu poderia planejar Istambul, casa própria, amor eterno, cabelos ao vento, atenuação de rugas, sol amarelinho. Mas não, essa brisa que me sopra e me arrepia a pele também me amarra e reduz.
As surpresas do amanhã me dão medo. Mas sei, porque é madrugada, há mais medos que perigos. 


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