tratado de silêncio

fico triste com minha incapacidade de conversa. 

tudo que consigo, acho, comunicar na calmaria do papel tem dimensão completamente inversa na fala. não sei se por submissão, covardia, timidez ou puramente incompetência, muitas vezes percebo que não estou sendo compreendida. a situação me exaspera, o corpo cansa e o eterno sentimento de inadequação no mundo cai sobre mim feito uma capa pesada que cobre qualquer manifestação mais ou menos delicada de minha personalidade. 
não gosto de discussões e discuto, não gosto de brigas e brigo. a besta-fera que mora em mim, ao mesmo tempo se solta e se refugia, se larga em dizer barbaridades e se fecha ouvindo o pensamento, tão claro, sem repetí-lo. 
 
fico tão abatida e infeliz que juro um milhão de vezes pra mim mesma que jamais tentarei expor qualquer tipo de perturbação: melhor preservar o silêncio, engolir tudo de lôbrego mesmo que vire câncer, como dizem por aí.
 
para me livrar das minhas responsabilidades existencialistas, culpo a educação, por vezes severa, da infância que me sublinhava os direitos furtados da argumentação, exposição ou negociação; ou a escola que bateu na tecla do idioma escrito e pouquíssimo na da expressão oral. 
para ser honesta, escrevo texto confessional como esse, que não serve pra muita coisa, mas que de alguma maneira vira catarse e me alivia um pouco das angústias de ter que conviver com tudo isso. 
assumo meu quinhão expondo essa fatia de humanidade como se isso pudesse aliviar um pouco o tamanho estrondoso dos meus defeitos. 

Uma resposta

  1. Zeca

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