Arquivo Mensal: agosto 2014
moro nos olhos do amado, endereço definitivo, onde começo e termino sussurro e gargalho desfilo e prometo. ouço os seus olhos como sol de manhã de primavera feito brisa de janeiro imensidão de espaço nós de todos os laços. o conjunto dos seus olhos me diz que ele é meu que me quer ser sua que sou sua. a voz dos olhos do amado tem …
Adoro o dia 13. Tenho cá meus motivos, todos eles muito particulares, que não cabem em revelação pública. Coisa bem minha, tão minha que as vezes as perco no meu calendário desordenado e distraído: outros dias acabam virando 13. As vezes as belezas do 13 caem no 12, mas sei que elas pertencem mesmo ao décimo terceiro e que se aparecem antes é para …
“Não acredito em Deus porque nunca o vi. Se ele quisesse que eu acreditasse nele, Sem dúvida que viria falar comigo E entraria pela minha porta dentro Dizendo-me, Aqui estou!” (Alberto Caeiro, in “O Guardador de Rebanhos – Poema V”) Querido Deus, Durante todo esse tempo estive por aqui, a esperar que você chegasse e se apresentasse. Desculpe se não consegui ver seus sinais …
Tirei da gaiolinha lápis, gizes, tintas. Todas as cores libertadas. E todas as disposições para usá-las. Saquei as algemas do bloquinho de canson que guardo há muito e que agora é manchado pela pátina do tempo, amarelado pelos anos de gaveta. Abri bem as janelas, escancarei as cortinas, afastei os móveis. Com os ventos a circular, espalhei material em cima da mesa. Escolhi música de …
Me animei com a superlua. Porque é super e porque é lua. Porque gosto dos fenômenos. Porque a natureza me encanta. Quando vi o céu se abrindo quase uivei. Depois veio a decepção no paredão do prédio cafona de arquitetura horrorosa, coisa de novo-rico, aqui do lado. Seria boa oportunidade de mandá-lo pelos ares – onde já se viu se intrometer entre a lua e …
Meu pai tem muitos silêncios, muitos olhares, muitos entendimentos. Olha pra vida e considera as perspectivas diferentes que ela tem. É de educação pré-guerra, a de 1914, quando os homens sabiam que a gentileza, a calmaria, o ouvir e não perguntar são grandes bens para o bom convívio. Ele é incapaz de indiscrição, sempre achou que não tem que especular a vida de ninguém, como …
Tenho vontade de costurar imensa manta. Daquelas feitas a partir de retalhos, dos pedacinhos que não servem sozinhos para nada, mas que são imprescindíveis no espaço aberto. Eu, costureira imaginária, me aventurando nessa empreitada, cada pedaço teria uma cor, uma forma, um tamanho. Cada pedacinho seria único e não se repetiria, mas se multiplicaria no amiguinho do lado. Meu quebra-cabeça seria costurado milímetro por milímetro, …
Parei o que estava fazendo quando me dei conta do tempo, quatro e meia da manhã. Calculo que entre retoque da maquiagem, troca de roupa e afofar de travesseiros, tenha ido dormir perto das cinco. Acho que foi por isso que me pareceu tão irreal quando a Lívia entrou no meu quarto e anunciou: mãe, são dez pra sete, vamos? Fugi da cama. Não me …
As vezes tenho pensamentos sobre a felicidade. A minha. Me batuca a cabeça se numa quinta-feira qualquer acordarei, olharei para o lado e concluirei, sem ressalvas, eu sou feliz! É claro que já sei da inexistência de felicidade plena. O que não entendo é por que cargas d’água inventaram esse termo. Decerto para cutucar os fracos ou para incentivar a marcha em busca de coisa …
A vontade de retroceder três quilos na balança me colocou a fazer regime. A necessidade de endurecer um pouco a musculatura me levou à academia. O regime parece um primo chato; todo certinho, orgulho da família, notas boas, educação primorosa, um tanto sádico e dedo duro. Tem prazer em ficar testando a minha força de vontade, quer, de toda forma, me provar fraca, pouco confiável, …