Arquivo Mensal: abril 2015
descobri na internet que um beijo de dez segundos transmite 80 milhões de bactérias. não sei se é verdade, mas parece que uns cientistas da Holanda estudaram e chegaram a esse número espantoso. nem sabia que cabia tanta coisa na saliva, por mais molhado que seja o encontro… esse é o tipo de informação chata, coisa que a gente tem que esquecer, varrer do consciente, …
recebi recado do Sérgio Silva: “Adri morreu o Eduardo Galeano. Minhas veias estão abertas e sangrando. Estou esperando um texto daqueles que só você sabe fazer. Beijos” Sergio, a vida nos castiga. parece que as salmouras que derramamos todos os dias não são suficientes. ou que as chicotadas se apressam em castigar nossos pecados, até aqueles que não cometemos. sofremos. e, impressão, cada dia sofremos …
Conheci o Macaxeira numa entressafra de viagem, meio do caminho para nós dois. Ele voltava do Superagüi, eu seguia para Ilha do Mel, a nossa baldeação foi em Antonina, no restaurante do Joaquim, onde tudo acontece. A primeira conversa tratou das citronelas que plantou em volta de sua casa para espantar insetos, a segunda sobre a melhor pomada natural para curar picadas de mosquito e …
quando percebi que parte de um biquíni se abraçava indecentemente a um pé solitário de meia e uma saia de verão se insinuava ao paletó, soou o alarme de emergência: hora de arrumar o armário. caí em desespero. chorei lágrimas de linho, solucei algodão e me revirei em malhas: doze portas, oito gavetas, dois calceiros, quatro cabideiros e uma população confusa, que importou e exportou, …
a zanzar pela internet na companhia dos sonhos de sempre, encontrei um terreninho pra vender em Antonina. coisa modesta, num lugar que nem é o meu escolhido nas noites de liberdades, mas mesmo assim fiquei interessada. o valor, que parece caber numa loucura de financiamento em tempos difíceis, me seduz. tenho cá minhas urgências de Antonina. em suposições sem fim, comecei a pesquisar sobre construções …
se a morte me aparecesse, olhos nos olhos, acho que tentaria conversar, explicar que há muito a fazer ainda. contaria sobre o horário e sobre os dias. pediria que me fosse devolvido o tempo que gastei em filas de banco, em contas do orçamento, em espera de taxi ou mesa de restaurante. pediria de volta a areia que escorreu para baixo sem serventia alguma. também …
quando o tempo passa e me conta que o que já foi ainda é a vida vem e desmonta ideia de pouca fé… bem quietinha espio meu passado. as vezes ele fala tanto do presente que me assusto. o hoje é um copo cheio de memórias, mala entulhada de lembranças. as fotos da Lívia com o Renato são espécie de resumo de vida. ele um ponto …
teve uma época da minha vida que queria matar o Noviski. ele me enlouquecia. não brigava, não dizia, não usava de sarcasmo ou cinismo comigo, mas me enlouquecia. o contraditório é que eu não conseguia ficar longe dele. não desfazia o laço, não virava a página, não parava, não retrocedia… eu gostava muito do Noviski para o corte. quando terminamos nosso trabalho, eu estava exaurida. …
eu falo de amor em outra língua as vezes ocupo olhos para ouvir uso as mãos, sei pelo cheiro e declaro na canção eu trato do amor no avesso no inverso, no contrário o oposto que é meu reverso a imperfeição de mim no descompasso, converso eu caminho pelo amor como quem anda ou quem corre melhor, quem para e no beijo morre eu sei …
a Soêvia veio aqui em casa. nem sei direito como explicar o fato desse dia ter demorado tanto pra chegar. mas Soêvia veio, e com ela trouxe sorriso escancarado, simpatia quase obscena, conversa estonteante e o olhar cúmplice. passou da porta com a afirmação, não trouxe nada, cheguei com as mãos abanando. e as mãos da Soêvia abanam o mundo, chacoalham a existência, aplaudem sonhos, …