Arquivo Mensal: março 2016
“… Não é como a vida de Paris, digo, que é a mesmíssima coisa que estar a bordo de um transatlântico qualquer. É nas cidades pequenas que a gente descobre um país, naquele tipo de conhecimento que se adquire com os dias e noites sem importância…” (James Salter em Um esporte e um passatempo) vejo uma mesa com pintura em ouro; uma mulher de preto …
não tenho endereços em linha reta. quando estou a andar, sempre prefiro fazer o caminho mais bonito, mesmo que isso multiplique quarteirões. a beleza está solta por aí e colocá-la como integrante nos prazeres cotidianos é enriquecer a vida. fora de casa, em viagem, essa atitude é potencializada. parece que todos os sentidos estão trabalhando com mais força. detalhes mínimos de portas, história contada em …
um pouquinho de turismo. sabe as galerias de Paris? aquelas passagens cobertas que levam de um lado pro outro, da maravilha de cá para a maravilha de lá. a mais antiga delas, a Passage des Panoramas, faz ligações entre ruas do 2º arrondissement desde 1800. atravessa vias e séculos numa espécie de testemunha e personagem da história. muita gente boa, as gentes das artes; muita …
uma missa em latim o reflexo do rosto no trem o som do baixo, o jazz bombas em Bruxelas vento varre capim. menos uma hora em Paris ando descalça em Londres ouço a velha música o livro está sobre a mesa e a tragédia no jornal falso espanto da realeza. no relógio, o mesmo horário campos de trigo, de nada um avião, árvores secas, paisagem …
um dia sem escrita é um dia não vivido. um dia sem leitura não existe. escrevo e leio sem compromisso com o sucesso todos os dias, faz parte da vida. descubro, cada vez mais espantada, que minhas manias se estabelecem gritantes e me transformam num tipo esquisito. meu quartinho é meu santuário. quando saio de lá para trabalhar em outro lugar, retiro santo protetor e …
um circuito de dois minutos (e as vezes de uma vida inteira). a saudade começa branda a pensar em beijo ou olhar ou música ou corpo. caminha um pouco nos complementos e chega a um destino que não existe mais e que mesmo assim faz parte do tempo em que se está. lentamente vai tateando, olhos vendados, um cantinho que deixou de ganhar raios dourados …
cheia de alegria e outras coisas me entrego a tão prazeroso ritual: faço as malas. domingo, 13, sigo para Paris. o tempo é de trabalho. e isso significa que é também de muito contentamento. gosto do que faço e gosto mais quando é na Europa. novo projeto. não tenho muitos problemas com roupas. geralmente uso a que cai primeiro do armário quando abro a porta, …
quando o tempo é curto, a preguiça muita e a fome gritante, almoço num restaurantinho aqui na quadra de casa. é honesto, tem nome de ópera e serve à vizinhança. o pai do dono, um senhor muito simpático, está lá diariamente como um maître des cérémonies, que, sentado na sua mesa de todo dia, cumprimenta esfomeados com sorrisos e acenos. quando vou sozinha as vezes …
quantas mães podem sentir o mesmo que eu? muitas. há gente boa nesse mundo, a fazer coisas, a virar páginas, contribuir, melhorar nossa existência. as mães dessas pessoas devem se sentir como eu. mas tenho cá umas particularidades em minha condição materna. sou mãe do Dé e da Lívia. também da Jéssica. hoje falo dele. primeiro filho, vem acompanhando minha vida, meus tropeços, conquistas, subidas …
esperava encontrar um rosto mais sincero, mais simpático, com os olhos um pouco arqueados e algumas rugas de um sofrimento existencial. acho que esperava um pouco mais de espelho. me arrependi de ter procurado foto na internet. quase não tive jeito de continuar a ler, porque aqueles olhos de gato, tão longe dos afetos que eu encontrava em sua escrita mansa, me tiraram a sinceridade …