Arquivo Mensal: agosto 2019
penso na última letra. na zeta de minha vida, aquela que encerrará um ciclo que não teve motivo de início e da mesma forma se despedirá solitário e caído sem alterar o curso dos homens. a última carta garantirá que terminei a rotação dentro da escrita. mesmo que ela seja assim, modo particular, com destinatários muito íntimos e que já não precisarão de minhas derradeiras palavras. nessa …
por um tipo de comodidade e jeito natural do pensamento tratei de me colocar no lugar de cronista. não que eu me considere uma expert no assunto ou alguém que pode tratar do tema com o queixo na linha do horizonte. me debato muito ao ler algumas coisas e tenho vontade de rasgar o computador em mil pedaços e desligar qualquer folha em branco que …
saio do mundo e me tranco em casa,paredes brancasteto branco,início do retiro.aguardo pelo diaque o mar vire sertãoe caia uma noiteescura como sempreestrelada como nunca.sentada, poltrona branca,espero pelo juízo final,piedoso, contemporâneoquase religiosoque, provável, amanhã. tiro tudo do quartoos móveisas coresos quadros,jogo fora todos os sapatose os casacos que ainda teimamna cor azul.remonto os segredos sem imagense sufoco pérolas, esmeraldas e rubisem caixas de veludopara que nunca …
me equilibro nessa ponte que flutua no mar das ilusões caminho um pé, outro pé, marcha vagarosa cuidado!, alguém grita – alguém sempre grita. no grito, o susto a queda, a dor. flutuo nesse mar que equilibra ponte de condões respiro um gemido, mais outro, e alguém suspira, alguém vive alguém morre alguém aprende a falar chinês. caminho por esses condões que desafiam pontes e …
faz muito tempo que iniciei o hábito de escrever cartas para o futuro. de mim para mim. escrevo para continuar dentro de mim mesma sem enlouquecer com a solidão. escrevo porque tenho coisas a dizer. escrevo porque é a única forma de continuar.minhas cartas são os bonecos de neve que construo da matéria que ainda continua em volta. são o salto na piscina que espalha a …
rasguei as poesias todas as folhas. puxei do sabugo as letras trôpegas e esmigalhei cada uma. sozinhas, aos pedaços, não são nada a não ser a lembrança, vaga lembrança, de quando eram escolhas. queimei os livros, um por um, sobraram as capas e uma tempestade enfurecida que se joga, incendeia nuvens acaricia o caos, abre-alas para próxima etapa. discuti com as palavras inventei os nomes …