Arquivo Mensal: março 2020
há música na sala. a porta está fechada e mal consigo ouvir.a música baixa e distante é ainda mais triste que ela toda encharcada dos graves e silêncios. eu lembro da frase ‘a tristeza é uma correnteza’.e quando lembro disso, todo meu corpo se contrai e me encolho e me emociono e puxo o ar e expando… ‘a tristeza é uma correnteza’ e vez ou …
achei que fosse possível sair da cama cinco e pouco e me sentar na varanda para esperar a chegada do sol. levantei. passei café, espremi fruta e me sentei silenciosa na varanda ainda escura. aos poucos, mas bem rápido, o dia foi acontecendo. o café descendo, o sol subindo. as coisas se compondo como se ainda fosse possível sentir algum tipo de paz. pensei que …
esses dias muito azuis de outono sempre me deixaram triste. desde criança. tenho imprecisas lembranças: a casa da minha avó, roseira no portão, caixão de lenha, pereira alta. silêncio. não sei mais nada daqueles dias remotos, que apesar de não existirem mais, ainda me perseguem nessa melancolia. quando sento aqui na sacada e respiro este silêncio de mil anos, me dou conta dessa tristeza que …
recebi uma carta. não sei se posso publica-la aqui, não pedi. não sei. não publicarei. a carta mais bonita da vida chegou até mim como uma mão estendida ao meu desespero desses dias. não sei lidar direito com essa erupção diária de medos e preocupações e decepções e revoltas. há um violino desafinado dentro de mim. nada é mais incômodo. passo me arrastando pelas horas …
trancada em casa, olhando o tempo passar pela janela e completamente entregue às desgraças das manchetes, há momentos que eu não consigo parar de chorar. tento normalizar a rotina, reconhecendo os privilégios de armário abastecido, biblioteca farta, possibilidades de filmes, músicas, o banho quente e todo o conforto que tenho na clausura. ler, escrever, deixar que o tempo corra… mas eu não consigo parar de chorar. …
flutue, meu amor, flutuedeixe que essa cor,a luz,a brisa,o somte levem.deixe que a vidaescorracomo água que renovaou como pássaro que pousa – um pequeno momento antes do voo flutue, querido, flutueinsista na leveza do verde,das notas,dos nomes que nascem quando surgem as coisas. deixe que o vento faça a moldurada vida,dos fatosdos cadernos que seguram cada uma das emoções que multiplicam,envelhecem, retornam e queimam até …