Arquivo Mensal: maio 2020
todos esses dias azuis, esse recorde de dourado, esse tempo de estio… a corrente que vai emendando um dia no outro me faz visitar os dias de rodízio, as noites de esperança de ouvir dança nos canos, as saudades de uma abundância, fácil e frívola de outros tempos. falta água. falta paciência. mais falta faz o escrúpulo de, às vezes, intimamente, bem quietinha, pensar que …
não importa o que aconteça comigo, por onde eu ande, o que faça. eu sou estrangeira. é uma condição de nascimento. está impresso em mim este traço de inadequação. o que eu faço para o bom convívio é tentar não perturbar muito. me esforço para me misturar ao meio, reprimo as maneiras desajustadas, a fala estridente, a vontade permanente de contestação – o exercício do …
sem pudores, peguei papel, canetinha e risquei a folha. pretensão? a de deixar a cabeça livre do corriqueiro.não tenho habilidade, menos ainda conhecimento técnico sobre artes gráficas. logo, expectativa alguma numa atividade assim. é uma novidade fazer uma coisa sem regra. por causa da minha inexperiência nesse tipo de aventura, ignorei padrões, desprezei método, deixei a mão solta e trêmula. só me revezei entre três …
cansei de limpar a casa espanar aspirar secar puxar empurrar dobrar lavar todos esses verbos me cansam e esse cotidiano entupido de obrigação e culpa que consome meu tempo e fica me sussurrando no ouvido frases idiotas enquanto eu escuto música para disfarçar o tédio e tentar a ruptura com a vida que eu achava normal acaba aqui como acabam também as pontuações que separam …
dormi acompanhada de fantasmas de várias sortes. acordei cheia de ideias equivocadas, planos insustentáveis de conversas, impulsos fantasiosos. sabe-se lá quantas coisas me assombraram na madrugada para despencar num amanhecer que tinha promessas catastróficas. faltava pão.com todos os medos e adornos me coloquei em marcha. respirar este sol de outono foi como entupir os pulmões de flores: primeiro parece bom, depois o pólen atrapalha e …