hoje é aniversário da Jéssica, filha postiça que chegou por aqui abalando as estruturas. provocou uma tempestade em casa. primeiro no Dé, lógico, depois foi se espalhando.
no começo eu implicava. confesso. e tinha sentimentos que me envergonho e não consigo explicar direito.
princípio, espécie de medo, tanto e tão grande que não me permitia nem olhar direito pra ela. medo de mãe, de dirigente, de prepotente. medo de ter que dividir a coroa, de não ser soberana, de enfraquecer. pensava que se tivéssemos contato, olhos nos olhos, ela me dominaria e aqui, no meu território, grassaria todo o seu poder.
depois, senti ciúme. sim, o baixo, vil e pobre ciúme. mesmo eu armada até o telhado, ela furou o cerco e delicadamente se instalou e espalhou seus poderes.
o tempo passou mais um pouco e eu entrei na velha máxima de se não pode com o inimigo, junte-se a ele. assim tentei, mas também não deu muito certo. calculei errado, ela não era inimiga.
e foi nesse reconhecimento que a vida se transformou. eu tirei o manto que nublava tudo que eu via. larguei, alameda abaixo, qualquer cisco que pudesse confundir minha interpretação sobre ela. e esse foi um grande momento! sem a capa do preconceito a vida fica melhor, mais justa, mais fácil. pedi desculpas, ela não aceitou. fez mais que isso: nem chegou a considerar minhas doideiras.
hoje, acho-a tão bacana, espirituosa, inteligente, bonita, do bem que lamento por não ter aparecido antes por aqui. quando estou longe ela é minha ponte de comunicação, me conta sobre novidades, sobre o cão, sobre a rotina, sobre tudo. faz piadas engraçadas com duas ou três palavrinhas. é dona de ideais nobres, tem objetivos, reflexões, vontades. um tanto maloqueira, anda por aí sem se importar muito se o casaco combina com o sapato ou se o shorts é da moda. é naturalmente linda, mas quando resolve se arrumar, meu amigo, sai de baixo, nem sei como o Dé se defende.
Jéssica, que sua caminhada seja tão linda quanto você!