por um tipo de comodidade e jeito natural do pensamento tratei de me colocar no lugar de cronista. não que eu me considere uma expert no assunto ou alguém que pode tratar do tema com o queixo na linha do horizonte.
me debato muito ao ler algumas coisas e tenho vontade de rasgar o computador em mil pedaços e desligar qualquer folha em branco que me apareça. eu tenho noção das minhas limitações.
mas é na crônica o lugar em que sofro menos.
veja lá, na crônica, logo na terra onde escreveram Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos… na crônica é o lugar em que sofro menos.
parece piada.
a derrubar as pedras das dificuldades e atravessar os muros que dividem cada um em sua insignificância, descobri coisa interessante sobre meu jeito de escrever.
a crônica me aparece sempre a partir do que vejo no mundo e se mistura imediatamente aos meus pensamentos. é como se o externo fosse a inspiração para a leitura do que está dentro da lataria.
preciso olhar pela janela, observar os pássaros, ver as pessoas na rua, roubar uma conversa no bar ou uma notícia de jornal.
é necessário o gatilho estrangeiro.
mas quando estou debaixo de uma cascata de problemas e não há tempo, ânimo ou possibilidade de saber das exterioridades, não há texto. não há crônica. existe apenas uma profundidade que preciso mergulhar sem pensar em nada e só ir puxando palavra por palavra desse poço particular.
esse amontoado de termos que vão se distribuindo em linhas, rimas, versos, eu pretensamente chamo de poesia. e é nesse caldeirão que fervo o que estou sentindo e sirvo como se fosse um prato digno da experiência da leitura.
a vida manca de cronista mostra mais uma fraqueza.
a tentativa de poesia expõe a fragilidade de quem não aprendeu com Pessoa a fingir emoções e fazer construção independente.
no meio de tudo isso lembro de Vinícius: Se não tivesse o amor / Se não tivesse essa dor / E se não tivesse o sofrer / E se não tivesse o chorar / Melhor era tudo se acabar…