descobri na internet que um beijo de dez segundos transmite 80 milhões de bactérias. não sei se é verdade, mas parece que uns cientistas da Holanda estudaram e chegaram a esse número espantoso. nem sabia que cabia tanta coisa na saliva, por mais molhado que seja o encontro…
esse é o tipo de informação chata, coisa que a gente tem que esquecer, varrer do consciente, engolir em seco (!). ora bolas!, não dá para carregar por aí a notícia, menos ainda a imagem, de 80 milhões de bactérias fazendo uma grande festa junina na sua boca enquanto você estaciona no primeiro ponto do prazer.
acho que o beijo diz qualquer coisa definitiva sobre o par. não que seja ele próprio o ponto de decisão entre fazer laço ou não, mas é o beijo que sussurra os segredos do amor.
tem gente que não sabe beijar. não falo de técnica, mas de entrega. é preciso não possuir, não ser, não ter, não nada. é preciso a ausência. o beijo é a meditação feita a dois, levitação.
o beijo é todo vontade de momento. é sentir que o mundo parou; é saber que pende, perpétua, na ponta de uma folha a gota de orvalho que não cai; é congelar a areia da ampulheta; é estar entre uma nota e outra da música; é não ter pensamentos.
o beijo é a rejeição a tudo que não seja ele próprio. é o começo, o meio e o fim. nada pode ter mais importância e nenhuma consequência é maior do que aquele instante.
bocas que se encontram de verdade se sabem, se reconhecem, se tocam nessa fatia de tempo, nesse início de volúpia, nesse instante do sempre, nessa terra do nunca. é como se um raio de sol atravessasse todos as camadas para dourar sensualidade.
é na hora do beijo que se voga, ainda que 80 milhões de bactérias se entusiasmem com história alheia.
Aiai…aposto que vc nunca recebeu um comentário assim, kk
E viva o dia do beijo!
Para transmitir (e reter contigo) 80 milhões de bactérias em 10 segundos, sua boca haveria de ser um aspirador (e filtrador) de líquidos (eletrodoméstico), com potência maior que a de um sugador odontológico, talvez uma bomba a vácuo usada em cirurgias bucais menores, para conseguir tal façanha, ainda ininterruptamente. Obviamente, considerando que você NÃO estivesse também transmitindo a ele/a o seu exército salivar, supondo hipoteticamente que você tivesse xerostomia (diminuição severa de saliva) e então por isso só “recebesse” a legião microbiana dele. Na realidade, no beijo bom há um troca-troca quase simultâneo, ligeiramente impossível de ser medido o resultado final da batalha, o nº de mortos e feridos. Sim, pularam a fronteira, mas tantos pra cá e tantos pra lá! Ademais, os microrganismos não usam fardas, a identificar seu país: quem é de quem? Algumas funções da saliva: proteção (dos tecidos mineralizados e moles), remineralização (retorno de cálcio e fosfato aos dentes na forma de fluorapatita), limpeza mecânica, ação antimicrobiana, tampão (manutenção do pH bucal) e digestão (inicia-se através da amilase salivar). Contém algumas dezenas de tipos de microrganismos, mas em quantidade/milhões. O problema, é sempre o parceiro/a: caso ele seja o que se chama de “MILIONÁRIO Mutans” (significa dizer que ele possui níveis de Streptococcus mutans acima do normal, sugerindo atividade de cárie), somado a uma deficiência momentânea (que seja) do SEU sistema imunológico, você pode sim com este beijo alucinante provocar um desequilíbrio em sua flora bucal, e isso servir com um fator que contribua para que você fique suscetível à doença cárie (que é a destruição dos tecidos mineralizados dos seus dentes, dependente da sua resistência, da sua flora oral/placa bacteriana e da sua dieta alimentar) ao transferir do ‘doente’ para você, este ou outros tipos de microrganismos, como o Streptococcus sanguis, Enterococcus spp., Staphylococcus spp., Candida spp. e etc. Não bastasse, o beijo quente pode reativar seu vírus herpético incubado, transmitir um HPV/oral, uma mononucleose infecciosa, um citomegalovírus, uma hepatite C e até uma meningite, por exemploS. Quem pensar em contrair HIV de alguém soropositivo, não será por um beijo na boca, é o que diz a literatura – exceção feita àqueles que possuírem lesões orais sanguinolentas, dependendo da resistência e da situação correspondente do não soropositivo, friso meu. O que muita gente ignora, é o FATO de que o parceiro/a pode ter em sua cavidade bucal outras lesões teciduais/dentais digamos que no minimo “desagradáveis”: gengivite, periodontite, pulpite hiperplásica, abcessos purulentos, tumores orais e etc. Sem falar nos fumantes que repassam os produtos do tabaco à você, ou dos gripados, ou dos tuberculosos, ou dos que não escovam a língua e por aí vai. Isso é só o que eu lembro, pois não clinico há quase 15 anos. Vale dizer, Excelência, que a conduta social em questão deve ser sempre PREVENTIVA. Pedir para olhar os dentes antes da bitoca, do malho ou do suga-me até o talo seria falta de educação, mas ao mesmo tempo, excesso de cuidado: com a saúde, não fomos educados a ter excesso de cuidado, infelizmente. Não esquecer que alguém muito adornado, enfeitado, perfumado, pode ser perfeitamente um “milionário”, mas de mutans. O gosto é característico, único, pode crer. Mas apenas os Cirurgiões-Dentistas podem imaginar o que há lá dentro depois de um beijo com “algo mais”: também o tártaro (pedaço da placa bacteriana madura) desprendido da boca do seu/sua oponente (beijo iogurte = aquele que vem pedaçudo), pode ir direto para o seu estômago, que o ácido clorídrico o destrói; uma raiz, um fragmento coronário, uma restauração em amálgama ou resina e ainda partes de outros materiais dentários – que serviriam como outros tipos de iogurte pedaçudo – também podem se deslocar pela volúpia do beijo, indo tocar na sua glote e descer goela abaixo sem pedir licença. Talvez, inconscientemente o beijo seja emocionante também ou mais ainda por causa de tudo isso: mistérios da meia-boca (porque ninguém vê a boca toda). Não há como orientar alguém neste sentido, não acredito em sorte nem em azar. Tudo na vida é escolha. Melhor quem escolhe menos: menos beijos, menos riscos. Caso o seu Príncipe ou sua Rainha sejam hígidos, manda ver, que beijar é bom demais. Neste caso, acrescente outros verbos ativos que não trago a este pseudoartigo por questão de “momento”, eu diria. Mas não custa nada, depois de um tempinho de “namoro” (andança, ‘ficância’, seja o que for), dizer assim pro seu bem:
– Amoooor! Vamos brincar de Dentista? É que eu fiz vestibular pra Odonto uma vez e levei pau, agora só quero ver se eu iria gostar. Vai, deixa, benhê! – pegue uma boa lanterna e um espelhinho (que caiba na boca dele/a) e introduza com delicadeza na caçapa do sujeito e examine com cuidado: se vir ou inalar algo estranho, sugira uma consulta.
Ementa: RELAÇÕES SOCIAIS – ABERTURA DA GUARDA – INTIMIDADES – LÁBIOS, LÍNGUAS E SALIVAS EM AÇÃO – MÚTUO ORAL – PREVENÇÃO – AUTOCUIDADO – SAÚDE – CONDUTAS – BEIJO NÃO É ESCOLHA, É DECISÃO.
Moral da história: beijo, é uma coisa que, inevitavelmente, vai até o estômago…pensem nisso.
Pronto
Matei saudade da Odonto
Bj, quer dizer: ABRAÇO!!
Estefânio.
(ex blogueiro)
Errata:
1 – não clinico há 10 anos.
2 – não falei de mau hálito.
3 – me esqueci de pedir pra vc não publicar isso.
Estefw