Eu mudei de casa recentemente. Como da última vez e da penúltima e da anterior e em todas as vezes, e acho que como acontece com todo mundo, os espaços são diferentes. Outras paredes, outras metragens, outras composições. Mas a coleção de objetos que insisto em carregar é a mesma.
Há coisas que eu sei que sempre me acompanharão e elas vão ganhando a companhia eterna de outras que chegam e se estabelecem como parte da vida, como narrativa das importâncias até aqui e depois.
Minha casa se transformou no cofre da minha memória e tudo tem história sagrada: caixinhas, quadros, girafas, rádios, baús… tudo conta um pouco de mim, dos amigos, da família, das pessoas que quero bem e que bem me querem.
Nesses momentos faço o treino do desapego, de deixar para trás o que serve muito bem para outros e que já não me diz nada. Sofro com o medo do arrependimento, daquele que vivemos quando arrumamos os armários a pensar que iremos emagrecer uns quilos e ainda caber na calça novinha que está à beira de ir pro espaço, ou daquela moda que poderá voltar e permitir que não se saia pelas ruas como se estivéssemos acabado de desembarcar do túnel do tempo, ou ainda a difícil consciência de transformar em pano para limpar os vidros a camiseta toda esburacada…
Parece tarefa boba e desimportante, mas tem nessa mudança de espaço muito de se saber quem é, de se reconhecer nas próprias escolhas, de encontrar a medida da peneira, de olhar pra trás e enumerar a vida.
Foi isso que aconteceu comigo. Ao ver fotografias; embalar taças; encontrar entradas de cinema, shows e teatro; descobrir diários antigos, anotações em agendas velhas, cartas e bilhetes de outros tempos. O que está na memória muitas vezes tem forma, cor, cheiro, é possível ao tato…
A história da gente é feita de permanências e rupturas!