quantas mães podem sentir o mesmo que eu? muitas.
há gente boa nesse mundo, a fazer coisas, a virar páginas, contribuir, melhorar nossa existência. as mães dessas pessoas devem se sentir como eu.
mas tenho cá umas particularidades em minha condição materna. sou mãe do Dé e da Lívia. também da Jéssica. hoje falo dele.
primeiro filho, vem acompanhando minha vida, meus tropeços, conquistas, subidas e descidas. crescemos juntos, descobrindo o mundo e desbravando nossos caminhos, comuns ou particulares.
coisa difícil olhar para um filho e entende-lo homem, dono das próprias escolhas e consequências. mais ainda, saber que a mão de proteção pode atrapalhar, que já não é mais a hora de saber o que é melhor para ele. porque eu não sei, como minha mãe não sabe o que é melhor para mim. ele sabe. ele escolhe.
é este benquerer infinito que acaba me distraindo e me fazendo as vezes opinar onde não devo, insistir no que não faz sentido, me preocupar sem razão. é este amor invencível que me faz daltônica a querer pintar as cores do quadro que é dele. é esta vontade louca de que tudo dê certo que me guia em conselhos não pedidos.
quando eu tinha a idade do Dé, cuidava do meu nariz e do nariz ranhento dele também. o que significa que ele tem idade para fazer tudo que faz, sustentar tudo que tem, aguentar tudo que escolhe, como aconteceu comigo. mais que isso, além da idade, ele tem condição espetacular para tudo. e, ainda mais, vez ou outra, ele faz o caminho de volta e me cuida e me guarda e limpa o meu nariz.
eu, que sempre gritei aos quatro ventos que não sou amiga dos meus filhos, que sou mãe, que sei das minhas responsabilidades e papel, agora aprendo mais uma lição: é hora de deixar alguns pormenores de lado e tratar de compreender que o tempo é o da amizade. ser mãe do Dé não é mais importante que ser sua amiga. e aqui estou para dizer que curto a maternidade e mais ainda quando ela se despedaça diante da realidade para virar algo muito maior: o reconhecimento de um homem adulto, generoso, responsável e com a cabeça aberta para o mundo.
seja para o projeto da casa, o carro enguiçado, a lama, ponte, sapo ou rã. seja para um belo horizonte, prata brilhando, garrafa de cana ou o próximo passo. seja para o que for, tenho braço forte ao meu lado, por escolha e não por imposição de vínculo. e com alívio me despeço do tempo do espinho na mão e do corte no pé.
sim, continuarei mãe até o fim, mas de um homem que é meu amigo.
quantas mães podem ter o mesmo que eu? poucas.