o Eduardo me perguntou se perdi amigos durante a pandemia.
pior, perdi amigos ao longo da vida.
algumas pessoas entraram na minha vida com a potência de mil trovões, habitaram momentos repletos de verdades, transformaram com a força de suas vivências a minha. depois se dispersaram no mundo, a deixar um rastro de saudade.
outras me escapuliram porque não soube cultivar a flor. deixei de regar.
sou feita de muitos pensamentos e poucos gestos. fui castigada pela omissão e acabei sem preciosidades de valores únicos.
o mais grave é que perdi gentes porque não tive o vigor para o perdão.
nem para pedir nem para dar.
minhas imperfeições transbordaram nos copos cheios de mágoas e acabei subtraindo a lista e grifando a soberba.
mas tenho a sorte, a grande sorte, de garantir que os lugares na minha mesa sejam preenchidos por pessoas muitos especiais. com quem divido o pão, o vinho, os brindes, as alegrias e os perrengues.
uma dezena de pessoas da melhor qualidade, que não estão presentes e que estão presentes o tempo inteiro.
uma dezena de pessoas a quem sei que posso acenar tanto para uma comemoração quanto para um pedido de ajuda.
uma dezena de pessoas que me fazem falta física e companhia constante.
a pandemia não me tirou ninguém. só me fez crer que a amizade tem a importância do ar, da água, do amor.
da vida.