na altura dos meus olhos, a copa da árvore, que é mais verde e mais copa que todas as outras.
também tenho, sem mover a cabeça, uma araucária e sua forma esquisita, que parece ser comum, mas só porque cresci vendo paisagem cheia de outras iguais.
nunca gostei de araucária, ela sempre me pareceu coisa meio estrangeira. estrangeira do planeta. e também sempre a achei cafona, acho que as pinturas mal feitas vendidas em quadrinhos pobres e repetitivos no Largo da Ordem influenciaram nisso.
a araucária sempre me irritou um pouco. pior, quantas vezes a defendi… sorriso amarelo nos lábios, afirmação de cabeça e a concordância quando alguns dos amigos de fora a elogiavam.
nunca tive coragem de descer a lenha, o máximo que fiz foi contar do incômodo de quem tem uma espécie dessas em casa. não pode cortar, não pode por abaixo, não pode gritar madeira e libertar o quintal para pitangueiras, limoeiros, monjoleiros, guapuruvus ou que se queira… o que também era visto com simpatia pelas pessoas de fora.
mas de um tempo para cá, passei a gostar da dita cuja e observar esta que vejo sem esforço da janela do quartinho.
um condomínio de joão-de-barro, não uma taça de luz como disse Emiliano, e que Dalton detesta.
uma tela de Álvaro Borges, não a coisa sórdida das paisagens pintadas em escala das banquinhas.
uma admiração silenciosa, não uma poesia para enaltecer seus galhos.
finalmente fiz amizade com as araucárias, mas nunca, nunquinha, escreverei sobre elas.
– na foto: Álvaro Borges Jr – Pinheiros, 035x050cm, acrílica sobre linho. está a venda no Solar do Rosário.