contar histórias é o que os escritores fazem. marcam a existência a registrar a vida deste e de outros tempos para o presente e o futuro.
acho isso bonito e generoso.
a cadeia de palavras enfileiradas nos acontecimentos, reais ou imaginários, relatam dores, tristezas, dificuldade. relatam também alegrias, descobertas, mansidões.
um escritor de verdade só sabe cavar imensos buracos em sua alma atrás de mais e mais profundezas.
é a tentativa de chegar até aquele lugar onde não reste verbo, substantivo, nenhum pronome, nada.
chegar ao vazio completo, onde tudo já foi arrancado, decodificado e espalhado no papel é a linha no horizonte de um escritor.
mas não há silêncio para quem escreve.
todas as imensas vozes que contam sobre as experiências humanas ficam a soprar segredos dia e noite, a procurar eco em combinações certas de palavras.
e na medida que o universo se move, lento e belo, textos novos em todas as partes do mundo vão, em gerúndio, marcando as existências.
é um ofício bonito. perpétuo. perturbador. é um jeito de passar pela vida para no final das contas saber que tudo que se aprendeu escrevendo não representa uma linha da história.
cavar buracos na alma atrás do silêncio contínuo, é o que eu faço.