“É preciso primeiro encontrar, depois cortar, para chegar à carne nua da emoção.”
Claude Debussy
a ouvir a sugestão do dia “Claire de lune”, Debussy, estampada na página do Almir Feijó lembrei de um acontecimento longínquo que eu nem sabia que havia se escondido em canto da memória…
quando era menina fazia aulas de ballet. não tinha vocação nem interesse, só obedecia. um dia, por alguma ocasião familiar, cheguei mais cedo à aula. minha professora estava em seus preparativos e devaneios. se aquecia, alongava e aproveitava da solidão para fazer piruetas em frente ao espelho.
era bonito e terno vê-la daquele jeito. eu, menina, ainda não sabia dessas coisas, mas fosse hoje, acharia a cena muito sensual. Debussy tocava pra ela, ela dançava pra ele.
fiquei a admirar seus passos e quando terminou, antes da música, percebi que estava chorando. perguntei. respondeu para ela mesma: choro porque desde menina queria ser bailarina e não professora.
até hoje tenho medo de acabar sendo o que não queria.