já adorei as festas de final de ano.
quando criança, a China não era tão grande e tão perto. as quinquilharias e pequenos presentes não faziam visitas quase cotidianas como hoje. os presentes tinham datas específicas e raramente em dias fora das marcas aguardadas no calendário. o natal era o ápice.
os natais da minha infância foram fartos. número sem fim de presentes e parentes e comemorações.
época das grandes conquistas do ano: bicicleta, patins, patinete, pranchas, bonecas que falavam, cantavam e batiam palminhas. encomendas sugeridas pela moda de cada tempo.
já detestei as festas de final de ano.
um pouco crescida, entendi o natal como obrigação familiar. nunca gostei de incumbências. o fato de ter que estar num lugar com determinadas pessoas e me comportar de forma ditada me incomodava.
nem o mundo embalado em papéis coloridos e fitas de cetim me livravam do mau humor.
eu era boba, criança de quase 1,80m tentando impor liberdade em situação que não cabia.
já fui indiferente às festas de final de ano.
num determinado momento, o conformismo se instalou em mim. tomou meu corpo e espírito com tanto poder que sorria plastificada e abria os presentes em gestos mecânicos – cuidados com o papeis para usá-los em outras ocasiões. lista de compras feita em setembro, tudo decorado segundo revistas especializadas no tema e comidas impecavelmente douradinhas e borbulhantes à mesa.
chegou o tempo em que puxei a espada e declarei independência. faria o que bem entendesse com meus dias de dezembro. se não tivesse vontade, não lotaria meu forno com pesadas aves, não aumentaria a potência da geladeira para refrescar as bebidas, não encontraria ninguém que tivesse mesmo sobrenome que eu.
livre!
o que eu fiz com minha primeira efeméride de escolha própria? olhei pro lado e entendi o quanto era importante para família que eu estivesse perto. olhei pro espelho e saquei sobre a importância de ter a família, em todo seu esplendor, ao meu redor.
meia volta, voltei.
hoje o natal é um misto de tudo. cozinho, sirvo, sou servida, compro presentes, ganho outros tantos. nada me fere. algumas coisas me comovem às lágrimas (ano passado ganhei trintão de um tio para que eu comprasse uma coisa que me agradasse porque ele não tem muito jeito para essas coisas, isso é ou não é uma lindeza?).
ainda o que chamam por aí de consumismo é nosso ponto alto, não vejo problema. o tempo é propício, não há arestas nem perdões nem solidariedades nem nada de especial para ser praticado. fazemos tudo isso no tempo devido e não quando alguém inventa que é hora.
minha conclusão: sou obrigada ao natal com a família e gosto disso.