quando eu era menina, antes da partida definitiva para uma viagem grande de verão, não era raro que as manhãs de domingo acontecessem na expectativa de um dia de praia.
meu pai analisava o tempo, como se entendesse alguma coisa sobre o assunto, e adivinhava se choveria ou não durante o dia. com sua resposta, que desconfio que tinha mais relação com seu humor do que com a meteorologia, nos metíamos em seu corcel e escorregávamos pela serra. minha irmã ainda nem era nascida nessa época. meus flashs de lembrança me mostram só meu irmão, contente, risonho, e minha mãe um pouco nervosa com as providências do dia.
eu, desde aquela época, já tinha um silêncio dentro do peito. e uma alegria triste de ir ver o mar.
fazia três anos e meio que não ia à praia.
três anos e meio! nunca em toda minha vida, nunquinha, passei tanto tempo sem o tempero do mar, sem o gosto do sol.
nunca mesmo.
sair dessa abstinência me fez bem. até minha coluna melhorou. o ciático ficou contente.
cabeça, ombros, perna e pé.
olhos, ouvidos, boca e nariz.
o corpo sorriu.
este domingo me fez também entender que nesta temporada não há rio, piscina ou preguiça que substitua o sal.
é urgente tratar disso. ainda que meus finais de semana sejam comumente preenchidos com trabalho, é preciso criar a rotina litorânea, mesmo que o domingo caia numa quarta-feira. que fique registrado!