Andávamos sem nos procurar, mas sabendo sempre que andávamos para nos encontrar.
Júlio Cortázar
animada e um pouco tensa com algumas providências, faço as malas. próxima parada Buenos Aires. dessa vez, viajo com minhas meninas. Lívia e Jéssica, uma em cada mão, para se espantar comigo com o que viveremos durante os próximos dias.
é óbvio que andar pelo mundo é das coisas que mais gosto. sou uma obcecada em olhar para fora, em saber dos lugares, em perceber as igualdades. e as diferenças.
por muitas vezes questionei essa vontade e em todas acabei encontrando caminhos diversos que acabaram no mesmo ponto de chegada: ao tratar do olhar externo é que encontro umas respostas para minhas coisas. é uma espécie de distração que tem efeito contrário.
não pense que faço viagens freudianas, Compostelas eternas, com anotações precisas sobre incômodos pontuais. não. quando viajo não estou nem aí para os tormentos de qualquer ordem, simplesmente vou e pronto. o importante é ir.
mas alguma coisa acontece comigo, parece que há um gatilho programado para o esquecimento do cotidiano e esse mesmo disparo dá a partida para que algumas abstrações sem componham de modo mais claro.
faz um tempo que compreendo minha vida como um quadro impressionista, preciso de alguma distância para saber melhor. as viagens fazem isso comigo. fosse eu uma conselheira para entendimento de pendengas, giraria como um disco riscado no repetitivo palpite: viaje, esqueça, solte, encontre, volte e resolva.
talvez eu seja uma egocêntrica, louca por mim mesma que se veste de interessada pelo mundo. ou talvez seja eu uma esquecida de mim que pensa que se olha, mas que na verdade cultiva superficialidades. pouco importa, o importante é ir…
gosto das expectativas que antecedem o imenso desconhecido que é sair de casa. sei que não voltarei a mesma, porque é nesse movimento que minhas transformações acontecem. mas sei também que parte de mim é imutável, não interessa o lugar.
é nesse misto de permanência e ruptura que minha vida acontece.
ouço a voz de Cortázar.