estava com medo que a samambaia pegasse a mesma doença que a amiga do lado, então resolvi verificar como estavam as coisas em cima da estante de livros (duas plantas: a cabeça tomada pelo coronavírus foi logo pensando que não há tanto espaço na varanda para um socorro coletivo…).
infelizmente minha vizinha tinha uma escada para me emprestar.
e me emprestou.
início da minha derrota.
um degrau, outro degrau, mais um e vi que a Solange, minha samambaia, estava bem.
era só isso e pronto. mas já que estava ali, passei um paninho para tirar o pó. e como uma coisa leva a outra, limpei, aspirei, arrumei, ordenei…
porque eu não tenho nenhum compromisso, abri uma garrafa de vinho. isso me atrapalhou um pouco. isso me ajudou um pouco.
sozinha, entre a limpeza, a organização, a faxina, os pensamentos, invejei a Ilana e a Isabela que tanto sabem, serenamente, dessas coisas.
continuei, entre goles, tirando o pó – da estante e das coisas que me aconteceram.
escrevi, entre soluços, para amigos antigos, contando sobre minhas misérias e meus equívocos e minhas decepções e minhas vontades e os acontecimentos da minha vida e minhas decepções e minhas vontades e minhas decepções…
fiz uma barbaridade de coisas movida pelo leve três pague dois do Festval, que oferece, dentro deste pacote, três garrafas por 89,90 – logo eu, que mal tenho grana para pagar o condomínio…
durante essa incursão, fui, ao meu jeito, pedindo socorro, mas o meu jeito não é claro, não é explícito, não é entendível…
e por isso, acabei calada na minha solidão de livros. com a estante arrumada.
no final, eu era uma bêbada cheia de certezas e com dúzia e meia de prateleiras organizadas, sofrendo as misérias de quem sabe o nome do inimigo.
que triste.