naturalmente Arquivo
procuro aulas de francês. encasquetei. nenhuma vez mais viajarei à França com essa comunicação tosca em que misturo palavras de vários idiomas e fico feito mímica do Teatro de Dionísio a tentar dizer coisas me expondo ao ridículo. a França é bacana comigo. talvez seja eu a exceção que confirma a regra. sempre fui muito, muito, muito bem tratada em minhas trapalhadas e todas as …
tenho preferência pelos momentos. não consigo me ligar em grandes histórias, fatio-as sem dó nem piedade. levo na cabeça, sem princípio, meio e fim, apenas recortes de acontecimentos. minha memória funciona assim, feito lembrança de sonho. agora, sentada aqui no quartinho, ainda me inundo de Bahia. mas não de uma viagem inteira, de dias e noites ininterruptos de maravilhas. está em mim agora mergulhos em …
eu que sou ateia, a toa, a toda, pela primeira vez não ouvi a voz que narra o que meus olhos sentem. por algum tempo minha cabeça ficou muda, uma linha horizontal sem movimentos ou inquietações. novidade. fui à missa. sempre que posso dou uma espiadinha nos rituais. gosto. sinto inveja da fé alheia. dos momentos católicos, já vi aquelas maravilhas nas grandes catedrais europeias, …
pode ser que eu não volte. é possível. mais. é provável. acontece sempre do mesmo jeito. os lugares que visito vão se acumulando em mim. chuvinha de influências, novidades, pensamentos, costumes, jeitos de ver e viver a vida. não que tudo me atinja de forma encorpada e definitiva, mas há traços mais fortes que me chamam a atenção e me modificam. nunca volto igual. nunca …
amarro fitinha do Bonfim no pulso, entro com o pé direito nas igrejas e faço três pedidos, penduro guias no pescoço, levo presentes à Iemanja. ando pela Bahia tomada por crenças, pedindo proteção e conversando com São Jorge. acredito em Caymmi, Vieira dos Santos e Gregório de Mattos. sim, creio em Jorge Amado, Carlos Coqueijo e Luís Gama.exalto os orixás, as baianas, os pescadores. decoro …
todos os santos me cercaram e me acariciaram a pele e me beijaram os cabelos. batizada pelo mar da Bahia, pelo orum que aqui tem mais força e mais brilho e mais vida, saí a caminhar como se fosse possível mais. e foi. a viagem está em mim. a sinto no olhar, na pele, no corpo inteiro. e isso é uma delicia. gosto de estar …
gosto da onda baiana. me alegra o ritmo da fala, o olhar de malícia, os gestos que dizem mais. sobretudo, me causa muito entusiasmo esse viver que parte da experiência do prazer. o contrário de onde eu vim, em que o prazer é consequência de muita penitência prévia. a experiência de estar bem acima de tudo, de não negar o júbilo nunca, não é tarefa …
tempinho atrás ouvi Gustavo Proença declamar que “o mar é tão grande que dá pra deixar toda dor”. não duvido. olho para essa imensidão e não consigo imaginar o que não possa ser benzido, afogado, renovado aqui. nessa salmoura azul lanço rede para ver se puxo corações que escorrem perdão e borbulham amor. sufoco meus pés em espuma branca para que respirem os cochichos de …
conhece coisa mais chata que comprar roupa? detesto. tenho preguiça e mau humor. normalmente compro pela internet. faço esforços gigantescos para evitar papo de loja, provador, caixa e o constrangimento de ser levada até a porta por vendedor a segurar minha sacola. não gosto desse contato humano. e acho que os serviços são ruins, deficitários, problemáticos. vendedor que faz salário a partir de vendas é …
um estudo científico, não lembro nome nem origem, diz que um casal que se olha por quatro minutos ininterruptos tem mais chance de se apaixonar. as estações do ano são quatro. as fases da lua também. no universo, quatro elementos. a sorte se estampa num trevinho de quatro folhas. quatro anos são essenciais para que um bissexto, maior, com mais possibilidades, se apresente. o dia estelar, tempo …