Sobre Curitiba Arquivo

a besta-fera

ontem tive uma crise de mau humor. mas em vez de deixar que as violências pulassem de mim, como é comum em casos assim, as troquei por palavras de ironia, umas frases dúbias meio agitadas e umas risadas fora de hora. almocei nesse estado de espírito, tentando me controlar, achando que se conseguisse domar a vontade de xingar o mundo inteiro e gritar palavrões, conseguiria …

pão e vinho

foi uma surpresa. duas surpresas.primeiro a Cibele veio e trouxe o pão que o Massimiliano fez. depois, meu irmão me deixou vinho, três garrafas.tudo entregue na calçada, com abraços e beijos imaginários e carinho e amor ao vivo. pensei em escrever um texto sobre os quarenta dias de Jesus no deserto. e intercalar palavras para desaguar nessa quarentena. falar sobre as tentações no deserto, escrituras …

rotina

um amigo me convidou para uma vídeo-chamada. propôs dia e horário para tomarmos um vinho juntos (no começo desse tempo, quando achei que fosse morrer por sufocamento de angústia, também sugeri isso a uma turminha que preenche muito bem minha mesa e minha vida). falo com minha mãe todos dias, com meu pai de dois em dois, com os filhos de meia em meia hora. …

correnteza

há música na sala. a porta está fechada e mal consigo ouvir.a música baixa e distante é ainda mais triste que ela toda encharcada dos graves e silêncios. eu lembro da frase ‘a tristeza é uma correnteza’.e quando lembro disso, todo meu corpo se contrai e me encolho e me emociono e puxo o ar e expando… ‘a tristeza é uma correnteza’ e vez ou …

planos inúteis

achei que fosse possível sair da cama cinco e pouco e me sentar na varanda para esperar a chegada do sol. levantei. passei café, espremi fruta e me sentei silenciosa na varanda ainda escura. aos poucos, mas bem rápido, o dia foi acontecendo. o café descendo, o sol subindo. as coisas se compondo como se ainda fosse possível sentir algum tipo de paz. pensei que …

não saio de casa

esses dias muito azuis de outono sempre me deixaram triste. desde criança. tenho imprecisas lembranças: a casa da minha avó, roseira no portão, caixão de lenha, pereira alta. silêncio. não sei mais nada daqueles dias remotos, que apesar de não existirem mais, ainda me perseguem nessa melancolia. quando sento aqui na sacada e respiro este silêncio de mil anos, me dou conta dessa tristeza que …

posta restante

recebi uma carta. não sei se posso publica-la aqui, não pedi. não sei. não publicarei. a carta mais bonita da vida chegou até mim como uma mão estendida ao meu desespero desses dias. não sei lidar direito com essa erupção diária de medos e preocupações e decepções e revoltas. há um violino desafinado dentro de mim. nada é mais incômodo. passo me arrastando pelas horas …

um medo e uma vontade de morrer

trancada em casa, olhando o tempo passar pela janela e completamente entregue às desgraças das manchetes, há momentos que eu não consigo parar de chorar.  tento normalizar a rotina, reconhecendo os privilégios de armário abastecido, biblioteca farta, possibilidades de filmes, músicas, o banho quente e todo o conforto que tenho na clausura. ler, escrever, deixar que o tempo corra… mas eu não consigo parar de chorar.  …

flutuação

flutue, meu amor, flutuedeixe que essa cor,a luz,a brisa,o somte levem.deixe que a vidaescorracomo água que renovaou como pássaro que pousa – um pequeno momento antes do voo flutue, querido, flutueinsista na leveza do verde,das notas,dos nomes que nascem quando surgem as coisas. deixe que o vento faça a moldurada vida,dos fatosdos cadernos que seguram cada uma das emoções que multiplicam,envelhecem, retornam e queimam até …

eu escrevo

trabalho com a palavra, essa coisa tão fora de moda que quando me perguntam o que eu faço e respondo, modestamente, ‘eu escrevo’, os olhos se arregalam e vem em seguida a inconformada pergunta ‘como assim?’.  texto, livro, linhas, parece, estão fora de moda, como se a língua escrita fosse algo dispensável. a maioria pensa que as histórias, o mundo, as fronteiras, os sentimentos, a …

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