sinto a despedida. o verão me acena seus últimos suspiros. essa virada de ciclo sempre me assusta e impressiona. a brisa fresquinha, o amanhecer a apontar 14 Célsius, a noite se apresentando no horário do dia.
as folhas cairão, o sol se esconderá mais rápido. e, sei, sentirei a lembrança das tardes azuis a fazer fundo na casa de madeira da minha avó com a indestrutível roseira instalada como um guardião imóvel no portão. a saudade da infância sempre me ataca nas tardes de outono.
nesse ano não estou preparada para a troca. temo. tremo. a tradução dos meus medos talvez esteja no fato de que não visitei o mar nessa estação, não me benzi e nem pulei as ondas, não fiz oferendas secretas nem senti o sal no corpo. a força que me prepara para esses tempos não foi reabastecida. bíceps fracos para carregar o peso de nova mudança.
força bruta, me despencam nos ombros a consequência do que a natureza dita. dou os primeiros passos na direção do recolhimento. noites longas, extensos pensamentos. amarelamentos, poucos nutrientes nas folhas e hora da colheita – frutos maduros no chão.
espero o outono embalada pelos movimentos de Vivaldi, tripla e tardia surpresa barroca que me comove todos os anos.
E no outro nosso mundo, setentrional, a vida está despertando de sonhos de hibernação… bendita dualidade essa por causa de uma entortadinha de eixo… o equilíbrio que nos faz humanidade, aqui e lá, na assimetria dos corpos celestes… a saudade do que não fui, dos rumos que não tomei, dos amores interrompidos sempre me assalta…
a entortadinha de eixo é o equilíbrio mesmo… gosto de pensar nos opostos como pesos que mantém a gangorra retinha: norte e sul, outono e primavera, acordar e dormir…
sobre saudade do que não aconteceu, quase sei do que está a falar. quase.
um abraço e obrigada pela companhia,
;-)