logo eu que sou Antonina até debaixo d’água tive imenso dia em Morretes. coisas do trabalho, coisas do prazer. me mandei pelas curvas da Graciosa a procurar as belezas que me causam atrás da espessa cortina branca que, véu de algodão, cobria todas as camadas de verde. tenho cá minhas desconfianças que foi por conta dessa serração que a Etel não teve ânimo para a apreciação…
em Morretes o colorido é muito, o tempo é grande. submerso no rio, reflete prateado um garfo que escorregou do restaurante, espécie de periscópio que se trava no fundo para deixar que a água lhe contorne enquanto assiste as mudanças do céu.
há ruas de barro, cor de barro, textura de barro, salpicadas por pedras redondas e muito claras polidas pela transparência de águas que lhe esculpem e acariciam.
uma casa inteira coberta, piso ao teto, das artes de ver. lugar de pinturas, crianças, objetos. e café.
o que era capa na ida, na volta se transformou. a chuva da serra é mais forte, mais cinza e mais perigosa. acende os olhinhos dourados dos carros e tudo que é árvore tem cor de chumbo. mas mudar de planalto é mudar de cor e em Curitiba, um pôr do sol rosa, quase lilás, revelou uma lua nova e fininha, um tracinho branco no fundo azul.
Jardim Botânico roxo, Arena vermelha, caminhões negros. chegamos em casa, Etel e eu, como se tivéssemos passado o dia a escorregar por arco-íris. e acho que foi isso mesmo.