cores outonais

para me distrair do dia, da vida, de toda minha existência, pintei o cabelo.

quase que fio por fio fui formando mechas, forma lenta, velocidade e concentração que não permitem pensamentos.

escorreguei a primeira tira de hena do final da testa até quase a nuca, o contorno da cabeça, o topo do meu perfil. esta linha que se revelada, apenas ela, pode me fazer reconhecer por minha filha ou por minha mãe.

também só minha mãe ou minha filha saberiam o que é pintar o cabelo para fugir da vida.

pintar o cabelo é uma solidão de mil dias.

deslizei a pasta pelos fios, imensos, encaracolados, brancos, rebeldes, feios, me sentei no chão, no canto do banheiro, e chorei por coisas que só minha filha ou minha mãe entenderiam.

no final, a cor ficou uma merda!

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