Eu estudei no Colégio São José. Não fui santa, não fui bem comportada, não ouvi de cabeça baixa. Mas fui ótima aluna de notas e conteúdos. Dia desses encontrei um boletim que atestava o registro mais vil em Física: sete pontos no terceiro bimestre a manchar um documento que não conhecia nada abaixo de oito (falho sistema!, nunca fui digna de sete em Física, a não ser que acertar o próprio nome numa prova valesse tanto assim).
Lembro com muito respeito, e pouca concordância, das freiras, do rigor das freiras, dos pensamentos das freiras… mas tenho também no cabide da memória a imagem da minha querida Vera (hoje professora da PUC, ontem mestra de meu filho) revolucionando momentos ao permitir reflexões alternativas à Ordem; também estão pendurados em mim os mantos das aulas de Língua Portuguesa, a utilizar música e poesia para as inexplicáveis regras gramaticais; e o sufoco do ginásio na cobertura; e as conversas infinitas com as amigas. E lembro muito, e sempre, da freira que cuidava da biblioteca a perseguir minha irmã atrás de um livro da Helena Kolody.
Um dia desses voltei ao prédio do São José e fiquei muito impressionada. Parece que o espaço encolheu, que os muros cresceram, que o ar diminuiu. Estranhíssimo como me senti oprimida! Acho que é igual tudo na vida: uma vez fora, a respirar liberdade, é impossível olhar o cárcere da mesma forma.