“Suportar nossa parte da noite, saber levar nossa porção de noite, carregar nossa parte da noite, suportar a escuridão”
Alejandro Zambra, sobre texto de Emily Dickinson
e quando me olho no espelho não reconheço essas rugas que me sopram em linhas cada uma de minhas vitórias. e cada um dos meus fracassos. sou ainda uma menina. sempre serei uma menina.
aqui, nesse lugar da noite onde faço o encontro comigo e me olho por dentro, me reviro no avesso para saber de mim, dessa porção que ninguém sabe ou desconfia, dessa fatia que só existe diante do espelho, desses segredos que só se revelam ao travesseiro.
aqui, nesse lugar mais íntimo, onde posso me apresentar, sem máscaras ou disfarces, onde há uma verdade maior, sem plateia, sem tribuna, sem eco.
aqui, onde anjos e demônios dão as mãos e me abençoam e purificam.
bem aqui, confesso: não importa o tanto de noite que leve comigo, não importa o tanto de noite que eu suporte, eu ainda sou uma menina; sempre serei uma menina.