Estava sentada no Caruso, a espera de que a vida me fizesse carinho em forma de café e banoffee.
Puxei livro, que é boa companhia para guloseimas ao mesmo tempo que mantém distante as conversas que não me interessam.
Torta, moca, prosa, tempinho sem-vergonha lá fora. Não tinha jeito da vida ser melhor. Tão bom passar uns instantes num café madeirinha e saber desse prazer…
Um senhor elegante, com pinta de aristocrata falido nas posses e convincente nas maneiras, se aproximou. Deslizou oito dedos estendidos na outra cadeira que compunha o jogo inteiro da minha pátria, olhar fixo, voz de galã:
– Você já veio aqui antes, né?
Eu vou lá desde antes lá ser lá. Muitos e muitos cafés atrás, frequento o Caruso da Carlos de Carvalho, número dos primeiros da rua.
Respondi que sim, várias vezes, e segui minha vida. Ele voltou para sua ocupação original, terminou cafezinho e picou a mula.
Eu, que há muito já não sei mais como rola um flerte, um início de conversa, fiquei espantada ao conferir que tantos anos depois, para mim e para ele, o mote da paquera ainda é “Você vem sempre aqui?”.
Tradicional para o seu devido tempo!!
tradição é tradição, né Celio?
;-)
Talvez mero déjà vu de um portador de Alzheimer… Não era pra ser nada romântico mesmo.