gosto do que faço. até quando não gosto, gosto.
sentar na solidão do quartinho e batucar texto é uma tarefa cheia de pequenos prazeres. ainda que o assunto não seja lá dos melhores, há um certo contentamento em organizar as palavras, buscar combinações, cavar referências, tentar dar suavidade a alguma paúra de mercado, política ou social e mesmo assim mandar o recado.
mas eu gosto pra valer mesmo é dos dias inúteis. desses em que não há compromisso com nada. que permitem esquecer as manchetes e me esconder em longos passeios pela cidade ou em sonecas proibidas num dia-feira qualquer.
os dias de descaso são os melhores. mordomia e privilégio que todos deveriam ter antes da necessidade de seus corpos ou espírito. um quinhão de aposentadoria ou férias para ajeitar as plantas da floreira ou bebericar uma taça branca e gelada na poltrona da sala.
os finais de semana não fazem parte dessa conta porque trazem em sua natureza a obrigação do descanso, do passatempo, do sono reposto, da ajeitada na casa e de tudo aquilo que finge ser o que não é – a incumbência de fazer alguma coisa num determinado tempo estraga tudo.
gosto do dia inútil quando ele cai em dia útil. é uma vingança a tudo aquilo que move o mundo e amarra as gentes nessa vida cheia de preceitos. o dia inútil é a revolução particular, o virar as costas para o que dizem que temos que fazer, é libertação.
grande sorte de quem consegue, de quem pode.
ócio, vagabundagem, folga, léu, preguiça, vadiação. chame como quiser.
todo mundo deveria poder fazer isso quando bem entendesse e ainda assim manter as garantias de trabalho nessa roda louca que não para de girar.