gosto das noites de domingo. há um silêncio diferente, um ventinho, um espírito de recomeço. gosto de recomeço, nova chance, nova oportunidade. fosse eu mais espalhafatosa e dada a comemorações, brindaria o réveillon uma vez por semana.
aqui do quartinho, espio a semana que confunde a direção, não diz se está a ir ou vir. faz ziguezague nos pensamentos. o domingo é a valsa dos dias, dois pra lá, dois pra cá, e larga às preferências de cada um se começa ou se termina o ciclo.
de qualquer forma, por luto ou alegria, enterro ou renascer, há silêncio lá fora e isso muito me agrada. as árvores me olham sólidas, plácidas, negras. sem perfil, sem disfarces, observando tudo sempre de frente. na escuridão, alcançam mais o céu.
porque é noite de domingo, o mundo se cala e se recolhe. rito que se repete e me fascina como se eu fosse um Shamash às avessas e na noite, estrelada ou enfumaçada, me fosse deslindado todos os segredos do mundo num silêncio que não diz, mas que revela em brisa.
o domingo a noite é minha redenção, meu sossego. é a hora e a vez da minha oração, pelo fim e pelo começo, passado e futuro.