há anos fui escalada para entrevistar Maurício Einhorn. pernas tremeram, o coração disparou, fiquei, comum em minhas ansiedades nervosas, gaga. eu era fã do Einhorn. e é difícil manter a espinha ereta diante do ídolo. aliás, nenhuma fã deveria ter obrigações profissionais com o ídolo.
para minimizar as possibilidades de vexame, pedi ao Silvio, querido Silvio, que me ajudasse, que fosse comigo e me segurasse caso minha porção racional fosse engolida pela descabida tiete.
fomos os dois, gravadorzinho nas mãos, perguntas na cabeça e um grande rio de emoções prestes a desaguar naquele imenso mar.
não sei da data nem da ocasião, guardo apenas que foi à tarde e que ocupamos uma sala do Mabu.
cumpri minha obrigação bem direitinho. longa e deliciosa entrevista. todos nos divertimos e o que tinha combinado prévio de durar 40 minutos se debruçou por três horas. curtas, mas três horas.
quando já não tínhamos mais tempo e todos deveríamos voltar para nossos encargos, fiz o pedido: Maurício, será que você pode tocar Chuva pra mim? sacou a gaitinha reluzente do estojo e tive uma das melhores audições da vida. Silvio e eu quase derretemos, nem parecia música, era outra coisa – um desses momentos que a gente gosta de chamar transcendental.
quando a música terminou, ainda flutuávamos, os três. com aquelas imensas pedras marejadas, Einhorn me olhou bem fundo, me falou uma meia dúzia de palavras lindas e selou a tarde. nada mais poderia ser dito depois daquilo. e nada foi dito. saímos chorando e com os corações mansos.
do maravilhoso álbum Tempo Feliz, de Baden e Einhorn, Chuva, composição de Durval Ferreira e quando tem letra, Pedro Camargo também assina.