para continuar a marcha de março marquei viagem. nota de ida, data de volta, destino e companhia. detalhes resolvidos: um, dois, três, quatro vestidos; todos igualmente longos, igualmente pretos, igualmente iguais, para não dar trabalho e também porque não tem coisa muito diferente no armário.
mais que compromisso familiar, é coisa de necessidade de espírito. eu e minha irmã nunca viajamos juntas, unidas e isoladas em nós mesmas.
o apito da aventura soa em momento muito delicado. fragilidades que se apoiam num imenso amor promovido primeiro pelo sangue e amarrado pela amizade.
sob os olhos atentos do meu irmão, viajarei com minha irmã. minha mala deve pesar uns 400 gramas; ela, provavelmente, levará umas quatro e voltará com doze; eu a incomodarei cedo para sair da cama, ela terá vontade da sonoterapia que se estende até as duas da tarde; eu suplicarei para entrarmos num bar e ouvir música, ela me contará sobre um shopping center com preços de ocasião. quando eu quiser cerveja, ela estará disposta ao vinho; se eu sentir fome, ela estará com sede; do meu medo de multidões, ela dará risadas sem fim.
e assim iremos, mãos dadas, nos completando em nossas diferenças, nos querendo bem, cuidando uma da outra e respondendo todas as mensagens do nosso irmão, a quem esperamos para festivo almoço em outro país.
porque somos os três fatias do mesmo bolo, resultado da mesma receita, com sabores diferentes: massa, recheio e cobertura.