eu não pude dar o último passeio pela cidade.
caminhei o penúltimo e o antepenúltimo e ainda um anterior. nessas três vezes tive o cuidado para que meus passos fossem de despedida.
um pé, outro pé, olhar para o sino da igreja. três metros e reparar bem nos cafés em volta da praça. um desvio e o mercado. um pouco mais à esquerda e o adeus ao prédio vazio do latoeiro. um pouco mais a frente e o Jesus tão sereno e sorridente me ofereceu uma vez mais o seu coração.
a loja da esquina, o prédio dos correios, o chinês e a confeitaria.
a subida para os bares, a ponte, o jardim e a cegonha.
o teatro, o ônibus, a faixa, a árvore e o caminho.
o rio, a arquibancada, o parque, o restaurante e o inverno.
tudo sempre a última vez. e em algumas vezes com o sentimento de última vez.
no meu último dia na cidade fiquei ciscando entre as necessidades de providências práticas. e pensei várias vezes que ainda bem é a última vez que tenho que lidar com a companhia de luz.
acho que no total, sem exagero, eu tive umas 15 festas de despedida. minhas possibilidades de controle emocional diluíram-se no Corgo.
eu não consegui responder a todos os convites porque não. porque foi ficando mesmo impossível.
eu sou um tipo sentimental, essas demonstrações de carinho e amizade acabam por exigir de mim um pouco mais do que consigo, transbordo.
transbordei a cada adeusinho. não foi fácil. mas eu não sei o que seria de mim se não fosse dessa forma.
fiz festa com os meus restos.
descobri que Vila Real, minha vilã de estimação, é um lugar mais generoso com a saída do que com qualquer outro estado ocupado por uma forasteira.
foi bonito, foi muito bonito poder estar com cada um e cada uma nos últimos dias.
sobre os convites que ficaram quicando sem resposta, só posso dizer que não consegui.
andarilha, segui para Curitiba com as malas abarrotadas das lembranças de todos os dias.