moro em Curitiba. sempre morei. mas não me acostumo a algumas particularidades da terra. a chuva está na lista. acho que não tenho casa própria porque gastei todo recurso na compra de guarda-chuvas. melhor, se tivesse guardado a primeira sombrinha que tive e colocado num cofre a grana que gastei nas que vieram depois, teria dinheiro para apartamento no Leblon – e lá poderia deixar umbrela escondidinha num armário da área de serviço.
saio a pé sem proteção, compro no caminho, volto pra casa sem proteção. não sei em que lugar no tempo e no espaço minha tenda particular é perdida.
hoje, tratei de fazer diferente: galochas (sim, eu sei!), chapéu, capa. vesti todo arsenal e decidi ir de carro. o trânsito fica mais impossível que o normal em dias molhados, mesmo assim, resolvi ir de carro. para pequena distância entre o estacionamento e o destino, estava bem protegida.
quando saí da garagem, com a primeira gota o limpador de para-brisa escorregou, creeeec. o barulho e o rastro no vidro me levaram imediatamente a três pensamentos: primeiro, não importa a opção ao sair de casa, em dia de chuva sempre preciso comprar alguma coisa; segundo, trocar palhetas faz parte da chatérrima manutenção do carro; terceiro, o Rodrigo me prometeu de presente limpadores como os que ele tem em seu carro chique.
como sempre que estou no posto a abastecer (coisa que detesto e que também entra no quesito manutenção) os frentistas querem me vender um milhão de coisas, resolvi que esse seria meu primeiro destino.
grande surpresa! há mais modelos de palheta que opções de galochas. não entendo desses pormenores e pedi para o rapaz eleger a melhor para o meu caso. veio ele com modelito em mãos “posso instalar essa?”, “você acha que essa é a melhor?”, “sim, claro.”, “se esse carro fosse seu, você instalaria essa?”. ele deu uma risadinha e voltou com outra.
minha irmã sempre diz que eu sou meio boba na hora de fazer compras, que não presto atenção e me deixo levar por impulsividades e compaixões.
saí do posto vitoriosa, com a certeza de ter acertado.
estacionei. se estivesse chovendo o mesmo tanto aquela hora em São Paulo, todos os problemas de abastecimento estariam resolvidos. imediatamente, como sempre, brotou na minha frente um vendedor de guarda-chuva. não tive escolha, ele tratou rapidinho a questão: “25,00”. repeti as frases que fiz para o frentista, afirmativamente ele respondeu sorrindo. comprei.
na volta, não chovia mais e eu também não tinha mais guarda-chuva, ele me ofereceu outro, igual: 15,00.
dois pensamentos: primeiro, na próxima chuva, precisarei fazer nova compra; segundo, acho que minha irmã tem razão!