estrelinha

a Soêvia veio aqui em casa. nem sei direito como explicar o fato desse dia ter demorado tanto pra chegar. mas Soêvia veio, e com ela trouxe sorriso escancarado, simpatia quase obscena, conversa estonteante e o olhar cúmplice.

passou da porta com a afirmação, não trouxe nada, cheguei com as mãos abanando. e as mãos da Soêvia abanam o mundo, chacoalham a existência, aplaudem sonhos, distribuem alegrias. aqui em casa, ela trouxe o de sempre. o que a acompanha, o que leva e deixa por onde anda.

o olhar, que é todo inclinado pro lado da poesia, permite achar que latas de cerveja se enfileiram em formação de coreografia, que elas dançam quando alguém esbarra – balé rasteiro e delicado no chão da área de serviço.

ela gosta das histórias, dos livros, dos quadros. gosta de ouvir, de ver, falar e se permite ser vista e ouvida.

caso de amor à primeira vista. lembro bem. foi na fila da bilheteria do Paiol, há mais de dez anos que a conheci pela primeira vez. a Lulu fez a ponte e continua fazendo, porque adora Soêvia e a amizade das duas permite várias coisas, desde incluir outros amigos, até explosão de mau humor; coisa linda de se ver. depois daquele dia, a conheci outras vezes e sigo a conhecendo a cada novo encontro e sempre renovando em mim admiração e bem querer.

agradeço a Lu, que a trouxe pra minha vida e a Soêvia por ter vindo.

Sossô foi embora como veio, abanando tudo e me deixou precioso e confidencial bilhetinho. eu não me seguro e o exibo, na tentativa de explicar um pouco essa maravilhosa pessoa, que adora bichos e gentes:

 

Hoje entrei na casa de uma moça que, talvez, eternamente tenha 32 anos. Uma casa onde o mais real e cruel pro mundo lá fora, seja o amor e respeito que existe entre os humanos que lá vivem. De resto era APENAS poesia, em cada cor, cada quadro, na escolha dos móveis e seus devidos lugares. Havia também, como algo que ria em escárnio, a leveza das folhas, um jardim como tabuleiro achado a alimentar uma girafa, uma das muitas q habitam esse mundo de Alice! Pobres de nós q vivemos cá, fora desse mundo habitado de figuras todas nas paredes, de cadeira cimo, azulejos que transpiram e geladeira metálica e moderna q guarda o vinho branco do último recital. Felizes de nós q mesmo sem viver nesta toca de coelho, ao escutarmos silenciosos e ruidosos as histórias dessa Alice, vivemos a sublimação do primeiro andar da próxima esquina, o frenesi do andar q nunca dorme e os pássaros coloridos que desenham as letras e as figuras q moram no escritório dessa moça!

Essa é uma casa de açúcar que recomendo aos diabéticos de emoção ñ entrarem, porque a overdose de emoção pode ser fatal…

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