Eu precisava comprar uma cadeira. Coisa simples, sem estofamento, sem cor, sem truques, sem voltas. Cadeira daquele tipo que antigamente se usava de par com as maravilhosas e úteis e belas escrivaninhas.
Pois bem, sem grana e com a tarefa a ser vencida, fui ao centro velho ali pelas imediações do Paço da Liberdade: comércio super popular, brechós, bares, biroscas, putas.
O carro? No estacionamento. E lá aconteceu a primeira surpresa do dia, big surprise, como diria N Pessoa. O carro que estava na minha frente era um desses de oito metros de altura, utilitário importado, super chique e poderoso; quando embicado o manobrista fez sinal que não, ordenou meia-volta e fechou a cara. Pensei que o lugar estivesse lotado, mas ele me acenou para entrar e fiz a manobra. Na placa dizia: “apenas carros pequenos e médios” e uma liçãozinha de moral implícita sobre os novos ricos que entopem as ruas da cidade com suas jamantas. Fui ao delírio!
A andar apressada, ocupando meu horário de almoço, na ida achei ter ouvido, numa dessas lojas populares, numa dessas caixas de som de lojas populares, a guitarra de um amigo, do Maurílio Ribeiro. Tem gente que ouve vozes, eu as vezes ouço música – e como isso é relativamente comum comigo, segui.
Escolhi cadeira, pechinchei, troquei de modelo, paguei, carreguei e voltei.
Novamente em frente à caixa de som, ouvi “Que reste-t-il de nos amors”. Fiquei por ali, dando um tempo para matar a charada.
Quando a música acabou, entendi. Uma das ruas mais populares da cidade, numa das lojas mais populares da região, em que o forte de dia é a venda de móveis furrecas e de noite o crack, lá, no meio de tudo isso, a rádio Educativa fica ligada durante o dia, “porque o chefe da gente manda e a gente gosta”.
Carros grandes não têm vez e a música é a melhor possível. O mundo tem salvação!
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a minha pergunta é…. esses carros grandes são mesmo do tamanho do ego dessas pessoas que precisam tanto tanto aparecer? ou será que os carros são apenas do tamanho do vazio existencial que o consumismo gera?
JOPZ
boa, muito boa questão!
o triste é que seja qual for a resposta pra isso, tem cada vez mais
deles nas ruas, a atrapalhar a vidinha da cidade.
imagina, que bom seria, se outros estacionamentos, mercados,
shoppings imitassem esse estabelecimento da Rua São Francisco?
Oremos…