Eu queria muito escrever um poema de amor, que arrancasse suspiros do mais amargo dos corações, que fizesse o mais descrente dos homens sorrir.
Queria poder riscar o papel com um sentimento tão puro que ele escorresse molhado, suado, vibrante em letras roucas e voz trêmula.
Queria poder dizer do tamanho do meu amor e da dor da minha saudade e que isso fosse tão claro e natural como um passarinho que bate asas e voa.
Queria que meu poema calasse o silêncio e despertasse as mais belas palavras da língua humana, daquela que fala para todos de um único jeito.
Queria que todos os amantes do mundo se valessem do meu poema para contar das profundezas de seus sentimentos e que cada um deles lhe acrescentasse uma palavra nova, para que ele continuasse crescendo numa corrente universal.
E mais, queria que quando meu poema fosse lido, a terra parasse, o tempo fosse engolido e, durante os instantes que durassem minhas palavras, só elas houvessem no mundo.
Mas acho que esse calor que insiste em mim queima a folha – brasa única que termina tudo antes de começar…