tenho vontade de pedir perdão. de estender os olhos até onde meus pecados alcançaram e curvar-me pelos erros. não quero penitência, só o perdão mesmo. puro, simples, humílimo.
e este perdão deveria caminhar até o futuro onde certamente minhas imperfeições continuarão a dançar.
sei de alguns erros desde seus nascimentos. mas os insisto. deixo-os que pulem, que se transformem em ação e que façam os estragos previstos e aqueles nem imaginados. humana, pobre e fraca, humana.
sei que pouco sobra de mim quando puxo a cortina das deformidades. remanesce uma figurinha frágil, simplória, quase nada. talvez minha força venha justamente daquilo que tenho de pior e que domo para transformar em alguma coisa que valha a existência. tarefa difícil se reconhecer assim. trabalho constante esse de se olhar no espelho, apontar os defeitos e tentar a metamorfose em coisa boa. lagarta e borboleta.
mas esse meu olhar e esse meu pesar pelo que tenho de ruim, a besta-fera que vive apesar de, não me redime das culpas. saber apenas não basta. lutar contra não é suficiente. se torturar dentro dos próprios tribunais não diminui as faltas. e por isso tenho vontade de perdão. um perdão geral, um perdão eterno, um perdão sem muros. um perdão libertação.
é provável que a absolvição tenha que vir de mim mesma. coisa de dentro pra fora. de que ninguém, nem os mortos nem os feridos, tenha relação com o que me acaba e me atormenta. a calmaria teria que estar em meu travesseiro.
mas preciso do outro. preciso do indulto alheio, o que revela mais uma fragilidade da mobília interna.
em noites frias assim, o inferno se mostra mais quente.
vontade de pedir perdão
estender os olhos
até onde meus pecados alcançaram
e curvar-me pelos erros.
sem penitência, só o perdão
puro, simples, humílimo.
perdão para o futuro
espaço em que ainda dançarão
animadas,
sedutoras,
malvistas,
minhas imperfeições
na primeira hora os erros se anunciam
os insisto
deixo-os que pulem
transformem-se em ação
estragos previstos
e os outros.
humana, pobre e fraca, humana.
honesta, abro a cortina das deformidades.
pouco sobra de mim
remanesce figura frágil,
simplória,
quase nada.
meu pior se faz em força
que domo para transformar
e validar a existência.
tarefa difícil
trabalho constante
espelho nos olhos,
defeitos cintilantes
tentativa de metamorfose
lagarta e borboleta.
mas esse meu olhar
e esse meu pesar,
(a besta-fera que vive apesar de)
não redime as culpas.
saber não basta
lutar não é suficiente.
a tortura dos próprios tribunais…
irrelevância, irrelevâncias.
vontade de perdão.
um perdão geral,
um perdão eterno,
um perdão sem muros.
perdão-libertação.
a absolvição fugiu de mim.
ninguém,
nem os mortos nem os feridos,
ninguém me acaba
ou me atormenta.
calmaria é travesseiro.
preciso do outro.
indulto alheio
fragilidade na mobília.
em noites frias,
o inferno é mais quente.