cheia de alegria e outras coisas me entrego a tão prazeroso ritual: faço as malas. domingo, 13, sigo para Paris. o tempo é de trabalho. e isso significa que é também de muito contentamento. gosto do que faço e gosto mais quando é na Europa. novo projeto.
não tenho muitos problemas com roupas. geralmente uso a que cai primeiro do armário quando abro a porta, o que significa que são sempre as mesmas. preguiça de procurar, dificuldade em pensar nessas coisas.
com tamanha falta de criatividade é uma facilidade me preparar para viajar: coloco mala no chão, abro guarda-roupas e as primeiras peças que, espada nas mãos, derem grito de liberdade e se jogarem suicidas na caixa, são as escolhidas. se a estação for de frio, sequestro um casaco e pronto.
nécessaire é diferente. requer atenção, planejamento, cálculos. neurose que não vem ao caso agora.
pois bem, marchava tranquila na minha contagem regressiva para embarcar até que Beatriz me deu um alerta sobre a possibilidade de chuvas, torós, tempestades, aguaceiros, inundações e afins para os próximos dias em Paris. pensei nas minhas galochas e aí um grande problema começou.
levar galochas em viagem não é coisa fácil, os dois pares que tenho quase chegam aos joelhos, pesam, não dobram. se precisarei de um deles nos próximos tempos, tenho que fazer escolha (minha-mãe-mandou…) e viajar calçada. anunciar, ainda por aqui, que sou uma chata de galochas. provavelmente isso acontecerá quando tentar entrar na sala de embarque: uma passadinha pela moldura luminosa que apitará, a luz vermelha se acenderá e eu, humilhada, terei que ficar descalça, a expor a intimidade das meias; por mais que me esforce em ser rápida e não atrapalhar o trânsito, é certo que ocuparei mais espaço que o permitido, atrasando a passagem dos demais – chata de galochas. (pior que eu, só mesmo o cara que terá que tirar o cinto e também trancará corredor ao tentar se recompor, passando a faixa pelo cós da calça e, para sua desgraça, deixando uma casa sem visita.)
depois de visualizar esse pesadelo, comecei a pensar na combinação de roupas. se vou ter que usar versão moderninha do pânico da minha infância, as Sete Léguas, é preciso tratar do que combina com isso e para minha falta de sorte, as roupas de todo dia não são as ideais.
de um momento para o outro pulei do relax total para a insânia de elencar capa, chapéu, sombrinha que cabe na bolsa, rímel a prova d’água, bolsa impermeável e um sem-fim de parafernálias.
e como se já não tivesse problemas suficientes com os inesperados adereços, um relampejo me atravessou: e se os meteorologistas não estiverem certos e fizer sol a temporada inteira? e se Beatriz se enganou e leu uma matéria de um tempo muito longínquo que só estampava a falta de assunto de um jornalista para os dias de hoje? e se o aquecimento global transformar o final do inverno numa agradável e ensolarada primavera? e lá se foram horas a pensar em óculos, vestidos, sapatinhos leves, echarpes, coisas floridas…
depois de me desesperar com tudo isso, ainda veio a ameaça maior de qualquer viagem: e se minha bagagem não desembarcar comigo e ficar perdida por dias, vagando de aeroporto em aeroporto?
seja lá o que eu carregue para essa nova aventura terá que caber na bagagem de mão!
arrumar as malas mexeu comigo.
expectativa: tranquilidade. realidade: loucura.