ciúme pretérito, eu tenho.
sou pessoa que procura se controlar diante dos interesses atuais do companheiro. entendo que o mundo é mais, muito mais, do que euzinha e que é possível alguém gostar de mim e mesmo assim olhar pro lado. não gosto, mas compreendo. há gentes bem interessantes, bem além de meus limitados atrativos, eu sei. a coerência deste pensamento se esforça muito para manter equilibrados os primeiros instintos, a impulsividade da posse, com o exercício da liberdade. me esforço e alcanço.
mas o passado do outro me devora.
sangue nos olhos ao imaginar histórias, beijos, planos, códigos e tudo que envolve um relacionamento. foge do meu controle e quando vejo estou mergulhada num mau humor impressionante, a desfilar por fantasias que saíram da minha cabeça e de alguma pista numa conversa corriqueira. um comentário é o fio do novelo que me conduz para a meada de terror.
o acontecimento anterior da vida do amado me devora. eu odeio o seu passado e tudo que lhe aconteceu. é até bem provável que minha imaginação seja mais prolífera do que os fatos reais, mas mesmo assim o que devaneio tem mais força, mais inquietude e por isso tudo cruza a linha da coerência e se transforma em verdade.
o pretérito mais que perfeito do outro é o indicativo das restrições do meu presente. é onde me vejo menor e onde me aterrorizo em minhas falhas. é um espelho que me mostra pequena e insegura.
pior é quando minhas quimeras chegam ao ponto da saudade. penso que o outro também nublou o passado e os motivos que o fizeram caminhar na direção do escape foram esquecidos e agora ele sente uma melancolia sobre os velhos tempos. isso me enlouquece!
solução? nenhuma. tento apenas fiscalizar as palavras para que não me escape um desmando de discurso. amordaço a voz enquanto o pensamento me castiga em outros tempos verbais.