“Um homem não é outra coisa se não o que fez de si mesmo.”
(Jean Paul Sartre)
As vezes fico meio encafifada com a palavra destino, no sentido de fatalidade a que estariam sujeitas todas as pessoas e todas as coisas do mundo, como explica o dicionário.
Se eu endoidar e me levantar daqui agora e correr pelo meio da rua até encontrar sorte pior, seria o destino? Ou o meu destino é continuar trancadinha aqui no quartinho dos fundos a pensar sobre isso?
Será que qualquer coisa muda o destino – e assim decreta a falência dele? Ou não, o destino se cumpre e pronto?
Eu me inclino, existencialista, a pensar que cada um é dono da própria vida e das próprias escolhas. Sem mais.
Mas aí aparece uma barca imensa que carrega acontecimentos tão díspares que me trouxeram até aqui. Parece que ela se movimenta e mostra um mar quase inteiro em que o princípio e o meio fazem todo o sentido de sucessão, mas que também esse mesmo meio (que é onde estou) chegaria ainda que as correntes, marés e ventos fossem outros. É como se não importasse por onde eu passasse, estaria aqui, bem aqui, no quartinho dos fundos batucando esse montaréu.
Todos os meus esforços são sempre para viver o dia de hoje e o que ele me apresenta, sem pensar muito no que ainda não tenho, que é o amanhã…
Mas quando faço isso, é óbvio que de alguma maneira estou também semeando. Talvez essa falta de preocupação me trouxe até aqui sem casa própria, sem reservas, sem grandes medos. Só vim, uma primavera atrás da outra, crendo que o vento bata na vela e que faça florir amanhã.
Talvez o meu destino seja viver sem destino. Sem direção determinada, plantando e colhendo no mesmo dia.
Cuida que no naufrague en tu vivir, Adrianita!