eu e meus amigos estamos a ficar velhos
temos todos, eles e eu, cabelos brancos
vontades próprias, passado numeroso
e algum problema nos joelhos
os meus amigos e eu aprendemos algumas coisas
e nos entulhamos de fotografias
nós não confiamos mais na memória
mas nos damos ao luxo de decorar poesias
todos nós temos mais passado que futuro
e a morte nos ronda
e a vida nos convida
e resolvemos largar as certezas
eu e meus amigos sentimos saudade
de um corpo durinho
nos orgulhamos das rugas
e não nos faltam truques, disfarces de idade
nós pensamos em contas a pagar
e na realização de sonhos
apagamos algumas histórias
e damos novo contorno às narrativas
os meus amigos e eu conhecemos os limites do corpo
visitamos o doutor, usamos lentes
e agora entendemos que simples exame de sangue
é variação de humor em desespero ou contente
todos nós, todos os dias, enganamos os ponteiros
e pedimos um pouco mais de tempo
inventamos novos planos
e lentamente nos movemos nos tabuleiros