quando o Dé tinha uns 4 anos, arrastamos móveis, escolhemos músicas e com a ajuda da mesa de jantar fingimos que estávamos num trio elétrico.
para evitar tragédia, a maior parte do tempo ele ficava em cima da mesa e eu no chão.
eu pulando e dançando.
e o Dé cantando num microfone imaginário enquanto flexionava os joelhinhos.
teve uma vez que, sabe-se lá onde, comprei uma fantasia de havaiana para a Lívia e fomos, ela, o Dé, minha irmã e eu, no bailinho infantil de um clube que já não me lembro qual.
num ano a Lívia estava fantasiada de borboleta e o Dé encasquetou que queria usar uma camisa de time de basquete, do Lakers, acho.
quando nós estávamos sentados no Sal Grosso com a Heloísa, a Bia e umas outras gentes da melhor qualidade e os Garibaldis e Sacis, ainda meia dúzia de gatos pingados, passaram, Dé e Lívia quiseram ir atrás. e foram.
fiquei sentada, como uma curitibana pré-guerra.
no geral de todos os dias de momo da minha vida estive mais alojada nos retiros do que nos agitos.
meus filhos foram mais carnavalescos do que eu e puderam viver as fantasias graças aos mais próximos.
hoje, adultos, cada um segue um bloquinho.
usam purpurina, preparam-se, fazem planos de percurso, sabem onde tem cerveja gelada.
às vezes vão atrás do trio elétrico; às vezes encostam-se no balcão perto do cavaquinho; às vezes, dizem que querem sossego, mas chegam em casa, colocam música e recriam o clima.
eu, dona de todas as saudades, só tenho vontade de colocar meu bloco na rua.
entendi, enfim, que minha carne é de carnaval.
meu coração é igual.