todo cérebro de vertebrado tem dois pequenos grãos que levam o repetitivo nome de amígdalas. não são aquelas do pescoço.
as amígdalas, que oportunamente são anagrama de amigas, têm a importante função de alerta, são a semente do medo, do susto, da vigília. são elas que gritam eufóricas: cuidado, meu bem, há perigo na esquina.
minhas amígdalas brotaram.
passaram daquele embrião camarada para uma poderosa árvore que sombreia tudo.
tenho medo.
com o passar dos anos e a coleção de danos, aprendi que fazer escolhas não garante sucesso em empreitadas. também entendi que largar decisões ao acaso não significa vencer na distração. em tudo há risco. em nada existe receita.
meus medos são tantos e tão frequentes que passaram também a pânicos e distrações noturnas: depois do mesmo pesadelo, acordo em sobressalto, espero que o coração reencontre o compasso e passo a desenvolver hipóteses que crescem, se multiplicam, me assombram. perco a mão ao tentar distinguir o que é fruto da composição de acontecimentos da minha vida, o que é desequilíbrio químico, o que é racional.
não consigo avaliar. e também não consigo entregar a decisão a mãos profissionais.
minhas amígdalas e eu formamos um conjunto muito interessante. um clubinho fechado. ninguém entra, ninguém sai. vamos nos alimentando, crescendo e encolhendo juntas. e às vezes tenho a impressão que resolvemos colocar alianças para que nunca mais seja possível caminhar tranquilamente, dormir com os anjos ou confiar na sorte, na vida, nos homens, na justiça.
e talvez só nós três estejamos certas porque não é possível mesmo acreditar na justiça, nos homens, na vida, na sorte ou dormir com os anjos e caminhar tranquilamente.