estranho, estranhíssimo.
o Facebook me avisa que há dois anos eu passava as primeiras horas do dia 10 de agosto a procurar a empatia do Álvaro de Campos para apoiar o desespero da madrugada insone.
aqui estou, condição bem parecida – troquei Álvaro por leitura menos interessante na providência de me aborrecer e entediar (e então dormir) do que me explicar… porque num determinado momento, saquei o óbvio: ninguém que está com Fernando Pessoa consegue dormir.
mas agora me batuca a cabeça se em todos os dez de agosto da minha vida eu estive acordada. uma espécie de efeitos sobrenaturais de alguma coisa que me ocorreu na data inaugural dessas insônias insuportáveis; sortilégios que vieram fazendo marcas no calendário dos anos sem que eu percebesse; uma feitiçaria lançada e mantida pelo subconsciente, esse espírito folgazão que tanto me perturba…
decerto eu estou dentro de um grande ciclo regular, engrenado, idiota e, claro e principalmente, inútil, que não me deixa dormir nas madrugadas dos dez de agosto, ainda que caiam numa segunda-feira.
resiliente, resolvi me adaptar e aproveitar as horas. estiquei o braço na mesinha aqui do lado com a ideia de ser surpreendida por leitura sem escolha, ao acaso. o que vem à minha mão? “Nem a rosa, nem o cravo…”, Jorge Amado, um folhetinho que comprei recentemente na Bahia de um guri no Pelô, que está aqui mais porque ainda não foi guardado no lugar certo, do que para que eu leia nesse momento da vida. o espanto? Jorge Amado nasceu num 10 de agosto.
estranho, estranhíssimo.
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