tenho a sorte da maternidade. dois filhos, guri e guria. duas idades, 22 e 14. adoro-os e por eles já fiz muita coisa. faço. sempre farei. e isso não tem nada de mais nem de inédito nem de glorioso, sou mãe e é o que cabe a todas e a cada uma…
não facilito, me mantenho atenta e forte no meu papel. não quero trocar de status, ser amiga ou colega de balada ou parceira de aventuras. sou mãe. a hierarquia da vida me coloca como referência, não como igual.
vivi um pouco mais e posso, de alguma forma, guiar ou apontar caminhos e estabelecer o que é certo e o que é errado – sim, aqui em casa temos os dois lados, não relativamos, não fazemos concessões entre um e outro, há o certo e há o errado!
jactância? não acho. cabe a pai e mãe tratar de suas crias, amá-las e respeitá-las. e isso tudo se estabelece no papel bem claro e assumido diante da família.
eu respeito meus filhos, como pessoas autônomas, capazes de decidir sobre a própria vida, com opiniões e conhecimentos que não tenho ou não concordo. respeito suas escolhas e suas vontades. respeito Dédallo e Lívia porque merecem e porque eu mereço respeitá-los. o que não impede fronteiras, regras, acordos. sei dizer não e não temo essa situação. quando estabeleço o limite, sei porque o faço e procuro explicar. causo alguns aborrecimentos. sigo, as vezes com elasticidade, noutras dura feito imbuia. depende da situação. minha amiga Cassandra, com toda sua experiência nas situações mais espantosas a envolver crianças e adolescentes ensina: “as vezes, dizer não é um dos maiores atos de amor”.
essa exposição de como eduquei os meus até aqui, não é vontade de servir de exemplo ou de ser dona de verdade ou de merecer troféus. é só falar, como falo de outras coisas que estão em minha vida.
aproveito a oportunidade para crítica. que outros pais não pensem nem ajam como eu, tudo bem. cada um sabe de seu jardim e suas flores. mas me incomoda, e incomoda muito, os loucos negligentes que dizem sim a tudo. pais que saíram de seus papeis para dar as mãos aos filhos num coleguismo inaceitável. pais que toleram tudo, que não se opõem para não ferir, não causar transtorno, não provocar discussão. pais que terceirizam seus deveres e assistem de longe, camarote leviano, suas crianças, nossas crianças, a se afogar num redemoinho de dúvidas e incertezas. tudo em nome da paz irresponsável, fruto da concordância permanente.
há pais, por exemplo, que sabem que seus filhos, menores de idade, bebem. e dizem o que? nada. e fazem o que? permitem, pior, as vezes promovem e incentivam festas com bar livre, com bebidas de todos tipos. há concordância adulta com o que é crime, o que é imoral e o que é prejudicial.
e isso é problema meu? sim. eu tenho o que com o quintal dos outros? nesse caso, tudo! porque é da educação de dentro de casa que se constrói a sociedade da porta pra fora. crianças que crescem sem limites, sem referências, sem vozes que se mostrem fortes e preparadas para suas responsabilidades têm muita chance de se tornarem adultos insuportáveis, perigosos, maléficos. adultos que serão advogados, médicos, juízes, engenheiros, senadores; adultos que serão pais e mães; adultos que tocarão o mundo daqui a pouco e o compreenderão a partir do seu olhar, de suas experiências, de seus jeitos e formas; adultos sem valores a governar tudo.
quero ser eu uma velha num mundo em que todas as cartas, rei, rainha, seis de copas, curinga tenham a mesma estampa? não, não quero. quero ser uma velha num mundo em que todas as cartas do baralho sejam importantes e respeitadas e guardas em suas diferenças e papeis.
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